OPINIÃO

A OAB, a diversidade e a inclusão

O avanço civilizatório exige exemplo e ações. O advogado branco já dominou por muito tempo a política da Ordem.

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JOÃO HUMBERTO MARTORELLI

Publicado em 04/04/2024 às 0:00 | Atualizado em 04/04/2024 às 14:56
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A OAB - Ordem dos Advogados do Brasil é a mais tradicional, valiosa e valorosa entidade da sociedade civil brasileira. Liderou a resistência durante a ditadura. A história da Ordem é a da supremacia dos princípios sobre os acidentes políticos, da verdade sobre a mentira, da coragem sobre a covardia cívica.

Preocupa-me, porém, e tenho externado isto em diversas ocasiões, o rumo corporativista da entidade após a redemocratização, a energia gasta nos temas assistencialistas próprios de um sindicato. A sociedade civil precisa da Ordem, da sua liderança, do seu protagonismo, de seu exemplo, e, embora importantes as reivindicações da classe nas várias frentes da profissão, a Ordem é muito maior que isso, não pode ficar à margem ou ser acessória dos grandes temas da sociedade brasileira.

E os dois grandes temas de hoje e do futuro são diversidade e inclusão. Enquanto a maioria das empresas e das organizações ainda olha para eles com ar reflexivo, comprazendo-se em proclamar slogans sem exercitá-los na prática, é indispensável que a Ordem assuma a dianteira, e encaminhe a sociedade, para tornar diversidade e inclusão irreversíveis, fincadas no espírito das pessoas e das entidades.

Isso tudo vem bem a propósito das eleições da OAB, cuja temporada foi aberta, em curso acordos e conversas para montagem das chapas. Na cabeça, temos um grande avanço: Ingrid Zanella, advogada brilhante, mulher, é a candidata a presidente da chapa da situação. Não esqueçamos, porém, que Ingrid já era a candidata à presidência nas últimas eleições, e que foi despojada do posto por um acordo de última hora em que a supremacia masculina foi definitiva. Não vai aqui qualquer crítica ao atual Presidente, o bravo, digno, excelente advogado Fernando Ribeiro Lins, cuja gestão tem sido exitosa em muitos aspectos. O problema é que ele, como eu, somos ao mesmo tempo vítimas e artífices da estrutura patriarcal, em que a mulher sempre vale menos ou, como no caso de Ingrid, sempre pode esperar. As chapas continuam sendo montadas por homens brancos no recôndito dos gabinetes, e neles prevalecem as lideranças tradicionais, leia-se: masculinas e brancas, os grandes escritórios, o meu incluído, enquanto as mulheres, negros, advogados LGBTQIA , advogados com deficiência, são sub-representados.

O avanço civilizatório exige exemplo e ações. O advogado branco já dominou por muito tempo a política da Ordem. O Presidente Fernando e Ingrid, que é a cabeça de chapa e tem responsabilidade na montagem da nova estrutura, fariam muito bem em lançar uma chapa em que todos os principais cargos, toda a mesa diretora, CAAPE, ESA, Conselho Federal sejam preenchidos por mulheres, metade delas negras. E são muitas: Manoela Alves, por exemplo, advogada referência na defesa das minorias, mulher, negra e homossexual, na Vice-Presidência, seria notável símbolo de avanço.

Sou branco, sou homem, mas defendo ardorosamente o avanço civilizatório, e amo a OAB.

 

João Humberto Martorelli, advogado

 

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