Em Boa Viagem, "Casa Navio" era inspirada no Queen Elizabeth
A casa ficava na Avenida Boa Viagem 4.000, num terreno que ia da Avenida Boa Viagem à Rua dos Navegantes
O Recife teve por 41 anos um "navio" em plena Avenida Boa Viagem. Em 1940, o empresário Aldemar da Costa Carvalho, inspirou-se no "Queen Elizabeth, mais luxuoso transatlântico do mundo, para construir sua residência em Boa Viagem. Teve a ideia depois de ver uma casa em forma de navio, nas margens do Lago Como, na Itália. Ele foi presidente do Sport e dá o nome ao estádio do rubro-negro, deputado federal por quatro mandatos e que teve uma bela ação filantrópica, especialmente na ajuda a Sociedade Pernambucana de Combate ao Câncer.
Dono da maior empresa de construção do Nordeste, dinheiro, material, equipamentos e operários não eram problema. Difícil foi convencer a esposa Maria Ester, conhecida como Estezinha, que não queria morar em Boa Viagem, lugar distante do palacete da Rua do Progresso, na Boa Vista, onde morava. Mais difícil ainda foi contratar o arquiteto Hugo de Azevedo Marques, que relutou em aceitar o projeto.
O empresário queria fazer um prédio enorme, lembrando o transatlântico, mas acabou concordando em fazer a casa, tipo miniatura do navio, com três andares. O livro "O Homem da Casa Navio", da sua filha Eliane Souto Carvalho e Vera Lúcia Japiassu, revela que a casa-navio foi inaugurada com uma festa de carnaval no aniversário de Elaine no dia 6 de fevereiro de 1946, seis anos depois de ter ficadopronta.
A casa ficava na Avenida Boa Viagem 4.000, num terreno, com quarenta metros de frente, que ia da Avenida Boa Viagem à Rua dos Navegantes, que o empresário comprou, por 10 mil contos (moeda da época) de um norte-americano que morava na orla de Boa Viagem, que na época tinha poucas casas, a maioria usada apenas para fins de semana e temporadas de veraneio.
A localização da casa, entre as ruas Ribeiro de Brito e Ernesto de Paula Santos, era na área batizada popularmente como Corta-Jaca, onde o Governador Carlos de Lima Cavalcanti costumava mergulhar e, consequentemente, juntava uma porção de pessoas. Segundo o historiador Carlos Bezerra, uns tinham interesses políticos, e outros queriam chamar a atenção de uma das filhas do chefe do Executivo Estadual.
A casa-navio tinha duas suítes, quatro quartos, sala de reuniões, sala de cinema, salão de jogos, restaurante e uma cabine de comando igual à de um navio. Ao longo dos seus 41 anos a casa hospedou governadores, ministro e até um presidente da República, Juscelino Kubitschek. E foi, também, cenário de muitas e importantes reuniões políticas e empresariais.
A "Metro-Goldwyn-Mayer" chegou a enviar uma equipe para registrar em filme a mansão pernambucana. O "Cruzeiro", na época a revista com maior circulação no país, fez uma enorme matéria sobre o imóvel. Era ponto de visita obrigatório de todo turista que vinha ao Recife e também dos moradores da cidade. Teve até um fotografo tipo lambe-lambe que ficava em frente à casa, para tirar fotos dos visitantes. Usava uma caixa madeira com uma lente acoplada e recipientes quimicos em seu interior, que revelava e imprimia a foto na hora. Muita gente ainda guarda uma dessas fotos de lembrança.
Sua demolição aconteceu quando se comentava que a casa seria tombada, impedindo a comercialização do terreno, que ficava numa das áreas mais valorizada da Zona Sul. Começou nas primeiras horas do dia 8 de julho de 1981 e demorou 90 dias para terminar, com 10 operários trabalhando de forma artesanal. No terreno foi construído o atual Edifício Vânia, nome da uma filha do dono da casa, que era deficiente.
Junto, outro edifício ganhou o nome de Aldemar da Costa Carvalho. A demolição, feita digamos de repente, causou um grande impacto na cidade e atraiu muita gente para acompanhar a derrubada da casa, que foi um dos símbolos da cidade por muitos anos.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1