Em junho de 2022, pesquisa do Datafolha revelou que 49% dos brasileiros se identificavam como de esquerda. E 34% como de direita. Sendo que são 17% que declaram ser de esquerda e 32% de centro-esquerda. Além de que 9% declararam ser de direita e 24% de centro-direita. Por sua vez, pesquisa do Ipec divulgada em 05/04/2024, revelou que 41% são de direita e 18% de esquerda. Afinal, a maioria dos brasileiros é de direita ou de esquerda?
O Datafolha apresenta aos entrevistados indagações sobre economia e comportamento. Em seguida, associa as respostas aos espectros ideológicos. Já o Ipec define uma escala de 0 a 10 e indaga o eleitor. Quem estiver entre 7 a 10 é considerado de direita. Caso o inquirido responda entre 0 a 3, será de esquerda. Ambas as formas são relevantes. Mas, no final, não esclarecem a realidade.
Recomendo não seguir insistindo em medir, exclusivamente, escolhas e manifestações do eleitor. Nem sempre a medição, a quantidade, explica algo nas eleições. A quantificação pode trazer mais dúvidas do que esclarecimentos, previsões. É necessário identificar o tamanho da esquerda e da direita no Brasil. Assim como é fundamental identificar o significado para o eleitor do que é centro, direita e esquerda. E não se faz isto medindo. Mas qualificando.
Pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência revelam que o bolsonarismo está associado à família, empreendedorismo, agenda moral. O lulismo está associado a conquistas econômicas e sensibilidade social. Esses são os significados de dois fenômenos que concorrem no Brasil. Qual é o tamanho deles? O Datafolha tenta medir ambos, mas confunde lulismo com petismo. E ambos são categorias sociais diferentes. É coerente considerar o petista como lulista. Mas o lulista não é, necessariamente, petista.
São abundantes as pesquisas de intenção de votos nesta época. Cada pesquisa traz uma suposta revelação e predição. Todavia, quando as urnas são abertas, as predições nem sempre são semelhantes aos resultados das urnas. A opinião pública e a imprensa são exigentes com os institutos de pesquisas. Lembro o argumento sábio: pesquisa de intenção de voto é retrato do momento.
Os eleitores estão numa trajetória recebendo incentivos diversos. Portanto, a escolha de hoje não será, obrigatoriamente, a do dia da eleição. Até lá, os candidatos colocarão estratégias em campo, as quais poderão influenciar o comportamento do eleitor. São inúmeras as pesquisas que também revelam a avaliação dos governos, em especial, nesta época, a dos prefeitos. Elas podem também ser consideradas retratos do momento, já que gestores podem utilizar de várias ferramentas para recuperar popularidade, inclusive, o uso da “estrutura municipal”.
Por trás dos números, ou melhor, das variáveis quantitativas, em particular Intenção de voto e Avaliação da administração, estão os significados de cada escolha do eleitor que são identificados pela pesquisa qualitativa. Inerente aos significados estão os sentimentos para com os prefeitos, candidatos, atores variados e a cidade. O número é um dado observável, bem visível. Ao contrário do significado da opinião do eleitor. Para identificá-lo, o votante precisa revelar os seus desejos, percepções e sentimentos. Tem que contar uma estória para o entrevistador/mediador da pesquisa qualitativa.
Identificar o significado da opinião do eleitor na eleição representa a possibilidade de construir previsões certeiras. Os sentimentos dos eleitores podem estar bem consolidados, não passíveis de mudança. Outra possibilidade, é o contrário, claro! Descobrir os desejos e sentimentos dos eleitores possibilitam não só bons prognósticos, mas as condições adequadas para a construção de estratégias eleitorais. A escolha do eleitor é tão complexa que um número pode dizer nada. É a pesquisa qualitativa que tem condições de revelar o provável voto de Maria em 06/10/2024.
Adriano Oliveira, Cientista Político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência