OPINIÃO

Entra governo, sai governo e o SUS continua o mesmo

O SUS está cansado de ser maltratado e em consequência recebe críticas desmoralizantes

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 10/05/2024 às 5:00
Notícia

O sistema único de saúde é uma joia bruta, rara e valiosa. Precisa ser lapidada, mas só ocupa as manchetes por filas para cirurgias, pacientes amontoados nos corredores ou falta de médicos e medicamentos. A exposição de suas gritantes deficiências, estampadas na mídia diariamente, resulta em um conceito sofrível perante a população, enquanto as milhares de vidas salvas, sem ônus para as famílias, os procedimentos e tratamentos complexos beneficiando milhões de pessoas, as virtudes no atendimento primário e preventivo, ficam em segundo plano. O sistema é capaz de oferecer tratamentos complexos e de alto custo com eficiência, mas falha no básico. Funcionou bem, de forma ágil, durante a pandemia, recebendo aplausos e reconhecimento, montando hospitais e UTIs do dia para noite, salvando tantas vidas, mas sem aprender nada para colocar em prática depois. Evitar mortes por COVID seria mais importante do que as perdas por desidratação ou infarto?

Existe falta de dimensionamento dos serviços para a demanda. Não há espaço, equipes, medicamentos para que um hospital funcione de portas abertas atendendo as vítimas da epidemia de violência nas residências, nas ruas, no trânsito. O normal para qualquer serviço que se preze é adequar a capacidade do hospital para a média de atendimentos por dia e ainda disponibilizar leitos de retaguarda para casos de tragédias, enchentes, grandes acidentes, brigas de torcidas ou desastres climáticos. Aqui, essa regra não funciona e na rotina, sem qualquer catástrofe, todos os leitos estão sempre ocupados e existem as inacreditáveis filas para acesso à UTIs, como se a septicemia desse uma trégua para voltar à luta quando em igualdade de condições ou a pseudomonas jogasse com flair play e só invadisse a corrente sanguínea quando o adversário estivesse em ambiente apropriado.

O SUS está cansado de ser maltratado e em consequência recebe críticas desmoralizantes, quando o país deveria vestir sua camisa, mostrar os feitos e o potencial, exigindo seu fortalecimento. As falhas são muitas, mas não é com críticas destrutivas que serão sanadas. Pressão sobre os deputados, senadores, ministros, presidentes, enaltecer o valor para melhorar, e não desqualificar.

O SUS é um patrimônio precioso. Se a gestão não faz, não vota. Cabe à opinião pública erguer a bandeira, ainda mais quando os planos de saúde privados ajustam seus preços muito acima da inflação e dos salários, expulsando a classe média que se vê obrigada a desaguar no sistema público, agravando a falta de leitos, comprometendo ainda mais o planejamento e o orçamento. Ao chegar, sentem como é duro esperar uma licitação remota para iniciar seu tratamento, têm percepção mais clara das deficiências, um maior nível de exigência e de judicialização das demandas.

Conhecemos ilhas de eficiência e comprometimento dentro do sistema, gente que fora das manchetes, no silêncio das madrugadas, salva muitas vidas apesar das dificuldades. Poderia ser mais. Como a inteligência humana parece que não sabe por onde começar, perguntei à IA (Gemini) o que fazer para melhorar o SUS. Em exatos 2 segundos recebi um texto detalhando a gestão qualificada, o financiamento adequado, a valorização profissional, a educação continuada, o prontuário eletrônico, coleta de dados para tomada de decisões, melhoria do agendamento, mutirões, ampliação e qualificação da atenção básica, campanhas educativas e incentivo a hábitos saudáveis e uso correto do sistema, combate a desinformação, prevenção de doenças e a importância da participação social na gestão do sistema. “Uma população bem-informada conhece seus direitos e cobra melhorias no sistema” e concluiu: “Lutar por um SUS fortalecido é essencial para garantir o direito universal à saúde de qualidade para todos os brasileiros”. Como é esperta essa IA!

Existe uma epidemia de mortes evitáveis entre nós, portanto a atitude e a urgência deveriam ser as mesmas que salvaram tantas vidas nos tempos trágicos da COVID. A tragédia continua.

Sérgio Gondim, médico

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