OPINIÃO

O Recife teve sua Torre de Londres

O restaurante ficava no Parque 13 de maio, reunindo o mundo político

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JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL

Publicado em 10/05/2024 às 5:00
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O Recife tem muitos restaurantes que marcaram época e acabaram deixando marcada sua passagem pela cidade. Um deles foi o “Torre de Londres”, no Parque 13 de Maio. Foi construído e inaugurado em 1939, quando o Recife sediou o 3º Congresso Eucarístico Nacional, para receber autoridades que vieram para o evento, com direito a visão privilegiada dos eventos do encontro religioso.

Era uma construção, digamos, excêntrica, e com nome pretencioso, pois em nada - nada mesmo- lembrava a verdadeira Torre de Londres, na capital da Inglaterra. Era todo circundada por uma escadaria que levava a um mirante, de onde se podia observar todo o Parque 13 de Maio. Tinha sim uma decoração com toques britânicos, com muita madeira, mesas com tampo feito com azulejos. Durante o dia servia lanches, além do almoço e do jantar. Pertencia ao empresário Júlio Jesus de Carvalho.

Em frente foi construído um lago, que diziam, sem qualquer comprovação, que era igual aos que existiam no Hyde Park de Londres. Uma invenção total.

 Foi durante muitos anos um dos restaurantes preferidos pelos políticos pernambucanos, aproveitando a proximidade com a Assembleia Legislativa e a Câmara dos Vereadores do Recife. E, evidentemente, muitos jornalistas, os mais destacados, pois não era uma casa barata para os chamados “focas”, os iniciantes, hoje conhecidos como estagiários. Estes iam sempre como convidado, como foi o caso de Ivanildo Sampaio, que era levado por Fernando da Câmara Cascudo, da revista “Manchete”, como ele me lembrou outro dia.

Quando eu começava como repórter fiz a cobertura de um almoço de confraternização da Federação das Indústrias de Pernambuco, promovido pelo seu presidente Miguel Vita. Foi a única vez que estive lá. Gustavo Krause recorda que foi o primeiro restaurante que frequentou no Recife. Morando em Vitória de Santo Antão,, veio num domingo com o pai, Bido Krause.

Reunia também estudantes das Faculdades de Direito e de Engenharia do Recife que ficavam na mesma área. E uma bem treinada equipe de garçons, todos de “summer” branco. Alguns ficaram famosos, amigos das figuras importantes que frequentavam a casa Um deles foi Mario Chinês, que depois foi para o “Mustang”, na Conde da Boa Vista.

Funcionava para almoço e jantar, com um cardápio internacional, que tinha como carro-chefe o “churrasco à carioca”, acompanhado de uma cerveja sempre supergelada. Foi famoso também seu galeto. A casa tinha também uma boa carta de vinhos. O jantar dos sábados, eram famosos por reunir muitos casais conhecidos, com as mulheres sempre muito elegantes, os homens de paletó;.

Seu período de maior movimento era quando acontecia a “Festa da Mocidade. Que ocupava toda a área do parque, com destaque para o teatro de revistas, que trazia nomes famosos da música brasileiro e as revistas de Walter Pinto, com as vedetes mais famosas do país na época, Vorgínia Lane, Anilza Leoni, Íris Bruzzi, Wilza Carla, Rose Rondelli, Renata Fronzi e Marly Marley. Antes ou depois dos espetáculos, as pessoas iam para o “Torre de Londres”, jantar ou apenas tomar um drinque e fumar cigarros americanos ou charutos cubanos, , que a casa servia, abastecida por conhecidos contrabandistas que atuavam na zona do Porto.

O “Torre de Londres” fechou em 1967. A Prefeitura foi insensível aos muitos apelos para sua permanência. Houve até um vereador que tentou, sem sucesso, tornar o restaurante patrimônio da cidade, o que impediria sua derrubada. Não adiantou: o restaurante e sua a torre anexa, foram demolidos. Já era um cartão postal da nossa cidade. E levou muitas histórias da vida pernambucana, principalmente da política, pois era o grande ponto de encontro dos políticos da época.

João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1

 

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