Opinião

Educação e empregabilidade

Nessa escola de qualidade, o aluno tem posição híbrida: é cliente e é produto

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ROBERTO PEREIRA

Publicado em 11/05/2024 às 17:29
Notícia

É crescente a preocupação entre o processo educacional e a sua relação com o mercado de trabalho. A escola sendo vista como espécie de elevador social, através do qual, pelo conhecimento, se ganharia lastro ao emprego e à empregabilidade.

Tanto assim que as escolas começam a se preocupar com a qualidade dos seus serviços, lamentando-se as que, por escassas condições, umas, por inaptidão, outras, não o fazem, mormente neste quadrante de século quando o conhecimento, nesta era da sociedade do conhecimento e da tecnologia, é a mola propulsora da formação, enquanto a sociedade pós-industrial, pós-fordista, imperiosamente (re)clama por esses saberes.

Nessa escola de qualidade, o aluno tem posição híbrida: é cliente e é produto. Cliente, juntamente com os professores, familiares e funcionários, e nas suas expectativas, estas no âmbito de limites que assegurem a construção do saber, do Saber Fazer e da formação ético-moral-religiosa. Produto, quando a universidade o aguarda, se aluno do ensino médio, mais e mais, adiante, quando a sociedade o recebe como profissional a quem se impõe competência. Mais do que eficiência, porém, também se pede comunicação, boa formação e bom caráter, versatilidade, espírito de liderança, equilíbrio emocional quase estou a desenhar o perfil desse profissional que a globalização e a tecnologia estão tecendo e suscitando.

Se o profissional, antes, era mais da especialização, tão velozes os avanços tecnológicos, que ele, ao contrário dos velhos paradigmas, precisa saber de tudo um pouco.

Conhecimento de idiomas e de informática, dois requisitos básicos. Nos Estados Unidos, a Universidade de Harvard apregoa: “o profissional do futuro terá que saber muita coisa de alguma coisa e pouca coisa de muita coisa.”

Num contraste com o tempo histórico, avulta o aprendizado que Aristóteles promovia andando com os seus discípulos, com quem conversava/refletia/debatia temas do cotidiano, sobre o social e o político, a cidadania e a ética, a vida como um todo.

Nas sociedades pré-industriais, muitas foram as lições colhidas/recolhidas pelos mais jovens como ouvidores de curandeiros, dos adultos, dos pais com quem se assimilavam profissões a exemplo da pesca, da caça, do artesanato etc.

Hoje, a Fábrica Inteligente vai substituindo a Fordista. À nossa frente, um Nevoeiro Informacional. Um mundo real globalizado por outro mundo: o virtual. No mundo virtual começa a avultar a Inteligência Artificial que vem predominando a tecnologia em voga.

Entretanto, a humanidade, apesar de atingir o ápice dos recursos à disposição de seu desenvolvimento, deixa o homem em posição de desconforto: ele nunca se sentiu tão descartável como agora. O progresso da humanidade parece ser o fracasso do homem. Esse é o contraste entre a modernidade e a contemporaneidade. Esse é o maior desafio, o embate do coletivo com o indivíduo. Entre o todo e as partes.

É preciso aprender a aprender. A construção do saber é um potencial de todos. Nunca se demonstrou a incapacidade humana ao exercício da aprendizagem. Estamos, segundo Gardner, aptos às inteligências múltiplas, à segmentação do conhecimento mediante habilidades que cada escola – supõe-se - vem aprimorando no seu cotidiano pedagógico e cultural.

Impõe-se, destarte, uma didática instigante. O homo sapiens, formando o homo tecnologicus. Um conhecimento segundo estudos que não podem ser interrompidos nem mesmo após as lides universitárias e pós-universitárias. Qualificação e requalificação, inclusive para que o trabalhador do futuro não se transforme num profissional-dinossauro, carcomido pelos avanços da tecnologia.

O aluno, sendo um estudante, precisa ir aos laboratórios. Às bibliotecas. Visitar fábricas e indústrias, empresas, hospitais, ONGs, tudo em conformidade com os seus anseios profissionais e vocacionais. Estagiar. Andar, desde cedo, os caminhos e os corredores de sua almejada profissão.

Que a sala de aula seja o fruto do desejo do aluno na sua sede de conhecimento. E o professor, diante do não-saber desse aluno, possa instigá-lo às perguntas e às curiosidades, à construção do conhecimento que, segundo a Unesco, precisa estar associado à economia. Assim sendo, assim seja!

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).

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