Portugal, ontem, hoje e sempre!
A terra de Camões é para ser visitada e viajada internamente, tantas as opções a esse cometimento espiritual
Naquele país irmão, de pequenas dimensões, conheci quase todos os seus cantos e encantos, sítios e cidades, sendo um desvanecimento sempre rever, nas lembranças do coração que todos as têm, esses cenários tão belos e tão identificadores de nossas raízes.
A terra de Camões é para ser visitada e viajada internamente, tantas as opções a esse cometimento espiritual. Começando por Lisboa que, segundo Gilberto Freyre, “deveria se chamar Lisótima", cidade castiça, destaque para a Torre de Belém, o Museu dos Coches e o Mosteiro dos Jerônimos. Fátima, uma peregrinação de fé, um êxtase à religiosidade, até entre os mais céticos.
Guimarães, berço de Portugal, onde o presente revive o passado e aponta o futuro; o seu castelo, dominando a cena, dá eco às vozes dos ancestrais portugueses, imortaliza o tempo, desenha a nacionalidade
Em Póvoa de Varzim, basta a estátua de Eça de Queiroz a lembrar a arte e o talento lusitanos. Sintra, um sonho, mais parecendo fantasia do que realidade, e que constitui o mais completo e notável exemplar da arquitetura portuguesa do Romantismo. Nazaré, diz um fado, "toda branquinha, quer casar". Óbidos, cidade medieval, uma estação do passado.
Coimbra, sede da universidade mais antiga de Portugal, mestra de gerações, a quem devemos a nossa Cultura Superior, a começar pelos Cursos Jurídicos, criados há 197 anos em São Paulo e em Olinda, este depois transferido para o Recife.
Salta aos olhos o desenvolvimento de Portugal nesses anos, consequência de sua entrada na Comunidade Europeia e que transformou a terra do poeta Fernando Pessoa num verdadeiro canteiro de obras, dando nitidez ao tempo tríduo de Gilberto Freyre: o passado, o presente e o futuro, os três tempos num tempo só.
Voltar a Portugal -sempre! - sobrevoando o Atlântico, é bom voar, é bom viajar.
Chega-se leve e renovado após o reencontro feliz com as nossas raízes, com a cultura, com o mar gótico da Terra do Fado.
Tristeza de não saber, através do texto escrito, dar beleza e ritmo às palavras, consoante pedem os palácios e castelos, as igrejas e os museus, os rios e os mares, e, sobretudo, a alma portuguesa, com certeza. A gastronomia e a culinária portuguesas, regadas a vinho, sabores e saberes à parte! Delícia das delícias!
Só estar numa casa de fados é o suficiente para sentir o mistério lusitano. O seu folclore, principalmente, a dança, com as suas roupas típicas, "Meninas vamos ao vira/que o vira é coisa boa". Escutar Ai Mouraria, Uma Casa Portuguesa, Só nós Dois é que Sabemos e tantos outros fados tocados e cantados com muita nostalgia e banzo. Enfim, a chamada dor-de-cotovelo já que, "lá e cá, más fadas há". O fado Leilão de Mim, a frangalhos o coração, que o autor se põe à venda, como se o amor, no bazar da vida, ganhasse preço - ou desapreço - após a martelada do leiloeiro.
De uma feita, fui a Portugal ao clima do sexto centenário de nascimento do infante Dom Henrique, por ocasião da exposição Recife - Raízes e Resultados, de artistas pernambucanos, cuja criatividade, transcendendo as nossas fronteiras, retratou, através da arte, as origens de um Estado nascido da saga portuguesa na epopeia - à Camões - dos "mares nunca dantes navegados".
Madeira, uma ilha tropical em plena Europa, com uma natureza exuberante, e Porto, cidade invicta e leal, mui amada, aonde tantas vezes retornei para alegria interior. O São João no Porto, um encanto de pureza! Às cabeças, marteladas apitando, além do alho tocando os cabelos, exalando cheiro.
Que bom admirar rapazes e moças, passeantes e contentes. E que beleza o show de pirotecnia luzindo o céu do Porto, sobre o Rio D'Ouro. Um espetáculo fotografado na retina, para guardar, por toda a vida, na memória do coração.
Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo