OPINIÃO

O cronista Chico Buarque de Holanda

Suas músicas foram gravadas por Nara Leão, Maria Bethânia, Ney Mato Grosso, Gal Costa, Cauby Peixoto, Fafá de Belém, Caetano, Zizi Possi...

Publicado em 27/06/2024 às 5:00
Notícia

O Rio de Janeiro sempre foi terra de notáveis cronistas. Da turma antiga podemos citar, entre outros, Machado de Assis, Lima Barreto, José de Alencar, Olavo Bilac, João do Rio e Orestes Barbosa. Da mais recente, Rubem Braga, Manuel Bandeira, Paulo Francis, Nelson Rodrigues, Antônio Maria, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Rezende e Fernando Sabino. Rubem Braga foi o maior e mais importante deles porque elevou a crônica, tida como gênero literário menor, em maior. Paulo Mendes Campos disse que o grande cronista do Rio foi Noel Rosa e ninguém melhor que ele para dizer isso, extraordinário poeta que foi. Lembrei disso agora, quando Chico Buarque faz 80 anos de vida trepidante, agitada e gloriosa pois ele é cronista do Rio, de São Paulo e do Brasil.

O interessante é que Machado de Assis tendo tido uma existência sentimental e amorosa pacata, casado uma única vez, com Carolina, tivesse conhecido a alma feminina com tanta profundidade – haja visto Capitu e Helena. Ari Barroso, Noel, Sinhô e Ismael Silva, cantaram as mulheres. Mas nenhum melhor que Chico. Haja visto Folhetim.

Suas músicas foram gravadas por Nara Leão, Maria Bethânia, Ney Mato Grosso, Gal Costa, Cauby Peixoto, Fafá de Belém, Caetano Veloso, Zizi Possi, Milton Nascimento, Roberta Sá, Claudete Soares. Mas, em vez de escritor, cronista e compositor, o que ele queria mesmo era ser jogador de futebol. Admirador de Pagão, Garrinha e Canhoteiro, tentou atuar em times brasileiros e italianos, não conseguiu. Parece que craque nas letras musicais e romances, não era tão bom de bola.

Frustrado, arrematou cinco lotes de terreno no bairro do Recreio dos Bandeirantes, a 30 quilômetros do Leblon, onde construiu um campo, vestiário e fundou o mais charmoso time de várzea do futebol brasileiro, o Politheama, segundo o jornalista Tom Cardoso. Mas ele não gostava de perder e inventava todas as manhas, catimbas e canganchas pra ganhar. O campo ficava ao pé do morro do Torreirão, mas ninguém bolia com Chico, idolatrado por todos do morro sem distinção. Um homem desse não pode ser admirado por ditaduras fascistas. Então ele foi preso, censurado e enxotado do Brasil em 64, precisando se asilar na Itália. Caetano, Gil e outros que brilham na nossa música popular fugiram pra Inglaterra.

Arthur Carvalho – Associação Brasileira de Impressa - ABI

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