A liberdade em Pernambuco

Movimento representa um marco para o processo democrático no país. Daí o valor político das comemorações do bicentenário da Confederação do Equador

Publicado em 02/07/2024 às 0:00 | Atualizado em 02/07/2024 às 9:39

Na origem, o sentimento de nação aflorou em Guararapes; os ideais de independência inspiraram a Revolução de 1817; e as convicções de liberdade política e autonomia federativa foram as bandeiras empunhadas pelos revolucionários de 1824, a Confederação de Equador, sob a notável liderança de Frei Caneca.

O frade carmelita foi o personagem central da Revolução. Mesmo sem sair do seu pequeno mundo, pensou muito além dele, com "apetite enciclopédico", na expressão de Evaldo Cabral de Mello.

Ao cultivar interesse universal pelas novas formas de pensamento, demonstrado na erudição dos seus textos, Frei Caneca foi uma admirável síntese de homem de ideias e bravo guerreiro.

Como homem de pensamento e ação, ele lutou por um projeto de nação que tinha a Liberdade por princípio e a República como forma capaz de levar, democraticamente, os anseios coletivos ao poder público.

Naquele momento, o irredento baiano Cipriano Barata (preso em Salvador e impedido de participar da Confederação), assim, compreendeu o papel de Pernambuco "a província mais ciosa de sua liberdade e, por isso, a mais abundante de sucessos políticos e a mais capaz de servir de farol ao espírito público brasileiro".

A inspiração de Frei Caneca, como era conhecido o herói pernambucano Joaquim do Amor Divino, deve ser enfatizada. Executado pelo Império, junto a outros trinta revolucionários, Frei Caneca se torna um ícone da liberdade sufocada pela opressão do poder que exibia nítidos indícios de decadência, apesar da narrativa oficial da Independência para legitimar a permanência da coroa com Dom Pedro I.

Importante destacar que, quase uma década antes, na Revolução de 1817, os pernambucanos já demonstravam a insatisfação dos brasileiros com o regime imperial. A continuidade do espírito de luta e reforma institucional, em 1824, é coerente com o ambiente histórico e a disposição política encontrados em Pernambuco.

O movimento pernambucano, também, representa um marco para o processo democrático e as conquistas da cidadania no país. Daí o valor político das comemorações do bicentenário da Confederação do Equador com dimensão nacional. Neste sentido, a criação de uma comissão no Senado, ratifica o significado da Revolução e merece o aplauso dos cidadãos brasileiros.

O ano do Bicentenário é uma ocasião especial para lançar luz no papel desempenhado por Pernambuco e pelo Nordeste no caminho para a constituição de um Estado Democrático e Republicano. Como afirma o historiador George Cabral para a coleção "Pernambuco na Independência", série de 10 volumes publicados pela Cepe: "Pernambuco foi o epicentro da mais importante contestação à ordem colonial em toda a história da monarquia portuguesa. A antiga capitania fundada por Duarte Coelho viu florescer algumas das propostas de emancipação mais radicais entre as que foram postas sobre a mesa nas primeiras décadas do século XIX".

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No exemplo de resistência e ruptura, em prol da liberdade, nossos ancestrais tiveram um protagonismo que precisa ser valorizado e melhor compreendido. As demandas libertárias permanecem atuais, e devem ser debatidas, democraticamente, pela sociedade brasileira.

Vamos, pois, fazer do Bicentenário da Confederação do Equador um momento de retomada da discussão em torno do valor da liberdade e da democracia em sintonia com as raízes da pernambucanidade, resgatando a força da influência de nossa história na construção, de um país melhor e mais justo.

 

Priscila Krause,  vice-governadora do Estado, coordenadora da Comissão do Bicentenário da Confederação do Equador.

 

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