Ou mudamos, ou perecemos!
Continuamos firmes olhando apenas para o retrovisor e nos esquecemos, ou não queremos, olhar para onde aponta o farol no quesito educação
Resistimos em não mudar e vamos pagar um preço muito alto. O nosso ensino é ainda sedimentado no conteudismo num cenário disruptivo, e isso não combina. Continuamos firmes olhando apenas para o retrovisor e nos esquecemos, ou não queremos, olhar para onde aponta o farol. Em outras palavras, continuamos a preparar nossos estudantes para o passado do professor e não para o futuro que há de vir.
Não quero aqui deixar de reconhecer alguns avanços que o País alcançou, em particular, nessas últimas três décadas. Cito a título de exemplo, políticas públicas de financiamento e de avaliação do ensino extremamente robustas com as implantações do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), respectivamente. O Brasil criou, em 2007, um indicador de qualidade para a educação com o advento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), e com ele foi possível instituir metas para as redes públicas de ensino.
Apesar disso, o país avançou muito pouco no campo da aprendizagem escolar e na redução das desigualdades educacionais. Para sair dessa quase estagnação é preciso reconhecer que as escolas precisam mudar. A solução na está apenas na tecnologia, mas sem ela não vamos conseguir na dimensão que precisamos. Precisamos incluir em seu portfólio as novas plataformas digitais, além de preparar professores para o uso adequado da inteligência artificial no processo de ensino e de aprendizagem. Mas como fazer isso se a maioria das escolas públicas não está nem se quer conectada a uma boa rede de internet? Sem falar que uma grande parte dos professores está no nível 2 de competências digitais, numa escala de 1 a 5 (mais alto), desenhada pelo Centro de Inovação da Educação Brasileira (CIEB).
A partir de 2025, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) vai focar em competências tecnológicas para medir também o aprendizado dos alunos na faixa etária de 15 anos. A edição "Aprendendo no Mundo Digital" avaliará também a aprendizagem autorregulada e a investigação computacional e científica.
Mas não estamos apenas falando de competências digitais, de novas tecnologias e suas plataformas, mas também de outras que são igualmente importantes para se viver nesse novo ambiente, como a criatividade e o pensamento crítico. Na sua última edição de 2022, o PISA trouxe como grande novidade a mensuração do pensamento criativo e de sua relação com a proficiência escolar em leitura, matemática e ciências. Singapura, Coreia do Sul, Canadá, Nova Zelândia, Estônia e Finlândia obtiveram os melhores resultados em termos de pensamento criativo com um escore médio por aluno de 36 pontos, enquanto a média da OCDE foi de 33 pontos. Singapura obteve o melhor resultado com 41 pontos. O Brasil obteve apenas 23 pontos.
Qual a importância disso para o aprendizado escolar? As pesquisas mostram que há uma relação direta de maiores níveis de aprendizagem escolar em estudantes com tais competências mais desenvolvidas, como aqui mostrou o PISA para o pensamento criativo. Porém, o mais importante deste relatório da OCDE foi a clara sinalização que a escola do futuro não pode ser mais conteudista. E o futuro chegou!
Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira do Instituto de Estudos Avançados da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.