O atentado do Guararapes: 58 anos....
Era época de eleições indiretas, algo apenas formal e ritualístico, já que tudo era decidido pelo partido dos militares. Era o regime militar...

Manhã do dia 25 de julho de 1966.
O Brasil vivia os primórdios do regime militar.
Era época de eleições indiretas, algo apenas formal e ritualístico, já que tudo era decidido pelo partido dos militares.
O Marechal Arthur da Costa e Silva era candidato à presidência e anunciara uma visita ao Recife para fazer campanha.
No saguão do Aeroporto dos Guararapes, muitas pessoas o aguardavam, no momento em que, de repente, uma mala foi percebida abandonada no local.
O guarda civil Sebastião de Aquino seguia para entregá-la no balcão, quando, inesperadamente, dentro dela, uma bomba explodiu.
O clima de caos e confusão foi geral.
Aquino e outras 13 pessoas ficaram feridas. Já o jornalista Edson Régis e o vice-almirante Nelson Gomes morreram.
O que aconteceu naquele dia?
Três versões pairam no ar.
Segundo a versão oficial dos militares, tratou-se de um ato terrorista, que tinha como objetivo atingir Costa e Silva.
Em pouco tempo, a polícia apresentou dois acusados: Ricardo Zarattini e Edinaldo Miranda.
Ambos carregaram por toda a vida o estigma de terroristas, até que, em 2013, a Comissão Estadual da Verdade apresentou documentos do próprio regime, datados de 1970, que desmentem a versão oficial.
Uma segunda corrente atribui a autoria a militantes da Ação Popular (notadamente, a Raimundo Gonçalves e ao ex-padre Alípio de Freitas), que teriam agido por conta própria, sem autorização dos dirigentes.
Por fim, uma terceira linha sustenta que a versão oficial conflitava com o próprio inquérito militar que apurava o caso.
Historiadores afirmam que, em verdade, o crime foi planejado pelo governo para criar um clima de pânico na população, abrindo o caminho para o recrudescimento da ditadura e a criminalização da esquerda.
Fatos como esse preparariam o terreno para, dois anos mais tarde, fazer nascer o AI-5.
Dois detalhes importantes:
- Costa e Silva não desembarcou no Guararapes, optando por vir de carro pela Paraíba.
- No mesmo dia, duas outras bombas explodiram, sem vítimas, na sede da União Estadual dos Estudantes (UEE) e na sede do Serviço de Informação dos Estados Unidos (USIS).
Cada um tire as suas próprias conclusões.
Até hoje, o episódio segue sem elucidação.
José da Costa Soares, é promotor de Justiça e sócio efetivo do IAHGP. @historia_em_retalhos