Pablo Marçal será prefeito de São Paulo?

Pesquisa de agosto revela que entre os eleitores de Bolsonaro, Marçal tem 29%. Na pesquisa anterior, julho de 2024, Marçal tinha 22%

Publicado em 18/08/2024 às 10:56

Por Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência

Há um bom tempo, afirmei neste espaço, que a disputa em São Paulo tende a ser entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o candidato do PSOL, Guilherme Boulos. Frisei, ainda, que a estratégia ótima para o prefeito de São Paulo é municipalizar a campanha. E a estratégia ótima de Boulos é nacionalizar a disputa, mas sem perder de vista o debate sobre a cidade.

Nunes segue errando em virtude do seu desejo inexplicável de ter Jair Bolsonaro ao seu lado. Inclusive, o gestor da capital paulista permitiu que o seu candidato a vice fosse um aliado do bolsonarismo, o coronel Mello Araújo. Leio na Folha de São Paulo (17/08/2024) que Jair Bolsonaro afirmou que Ricardo Nunes não é o seu candidato dos sonhos e elogiou Pablo Marçal. Nenhuma surpresa nisto. Pois o ex-presidente não é adepto à compromisso.

Acompanhe o meu raciocínio. Existem na capital paulista, assim como no Brasil, quatro tipos de eleitores: 1) Bolsonarista; 2) Lulista; 3) Antilulista, mas não obrigatoriamente bolsonarista; 4) Antibolsonarista, mas não obrigatoriamente lulista. A soma desses quatro tipos de eleitores possibilita o suposto total de votantes, ou seja, o universo total (X). Quando Ricardo Nunes insiste em bolsonarizar a sua campanha, ele, teoricamente, conquista o eleitor bolsonarista, mais o antibolsonarista. No mundo ideal, a estratégia de Nunes, portanto, é correta. Mas na prática não é assim.

Pesquisa do Datafolha (07/08/2024) revela que entre os eleitores de Bolsonaro, Marçal tem 29%; e Nunes tem 38%. Na pesquisa anterior do referido instituto, julho de 2024, Marçal tinha 22%. E o prefeito de São Paulo, 42%. Conclusão: Marçal cresce, obrigatoriamente, entre os eleitores do universo bolsonarista; e, possivelmente, entre os antilulistas. Portanto, Marçal impede o crescimento de Ricardo Nunes.
Mais dados. Também segundo o Datafolha (07/08/2024), Guilherme Boulos tem 41% entre os eleitores que votaram no presidente Lula na última eleição. Desse modo, como o candidato do PSOL não está à frente da prefeitura, ele precisa nacionalizar a campanha – Estratégia ótima. Mas esse não é o caso, como insisto em dizer, de Ricardo Nunes. Por quê?

Levantamento do Datafolha (07/08/2024) mostra que 48% dos paulistanos consideram o a gestão de Ricardo Nunes como regular. 26% (ótimo/bom). E 22% reprovam (ruim/péssimo). Desse modo, o prefeito não tem gestão reprovada. Mas regular. Portanto, indago: Por que Nunes insiste em bolsonarizar a eleição municipal?

A estratégia ´ótima de Nunes é a municipalização, pois ele precisa contar ao eleitor o que fez, faz e poderá fazer por São Paulo. Quando ele insiste em bolsonarizar, isto é, nacionalizar, o eleitor não o julga pelo seu desempenho na gestão, mas, pelo fato dele ser Bolsonaro ou não. Por consequência, ele conquista votos, perde eleitores, e ainda disputa votantes com Pablo Marçal.

Voltando ao início do artigo. A estratégia nacionalização possibilita que Nunes dispute eleitores com Pablo Marçal nos universos bolsonaristas e antilulistas. No momento que ele aumenta a aprovação da sua gestão, através da municipalização da campanha, Ricardo Nunes adquire condições de conquistar eleitores nos variados universos apresentados. Em alguns, com melhor desempenho do que outros.

Desde já, Boulos pode torcer para ter Marçal como seu adversário no segundo turno. Supostamente, um adversário mais fácil do que Nunes. O prefeito de São Paulo segue com amplas chances de estar no segundo turno. Contudo, ele precisa de sabedoria para enfrentar um adversário que representa, neste instante, o imponderável na política, mas que poderá deixar de ser.

Para encerrar, uma previsão relevante: Prefeitos com mais de 60% de aprovação sufocarão competidores nitidamente bolsonarista. Ou seja: em ambientes com prefeitos com alta aprovação, o bolsonarismo perde força.

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