Marocão e Dr. Macarrão
Diariamente, Marocão e Dr. Macarrão procuravam nos jornais os convites para os casamentos chiques e compareciam a eles serem convidados.

Perguntam por que falo tanto na Capunga, na velha Capunga. Respondo que talvez seja porque a Capunga era ao mesmo tempo um bairro nobre e popular. Afinal, que bairro recifense hospedava o Príncipe Nassau nas férias de verão, quando ele tomava banho nas águas doces e cristalinas do Rio Capibaribe, ouvindo o canto do sabiá, do galo de campina, e do guriatã? Em que bairro foi montada a primeira cervejaria do Brasil? Que bairro do Recife congregou a grande quantidade de intelectuais e boêmios ao mesmo tempo?
Jaime Marocão era uma figura folclórica da Capunga. Magro, careca, aparentando 40 anos (nunca saiu dos 40) fanhoso e gasguito, jamais andou de trem, bonde, ônibus, lotação, táxi ou automóvel particular, pois, só andava de bicicleta. Percorria Recife todo em sua bicicleta. Era bedel da antiga Faculdade de Engenharia da UFPE sediada na rua do Hospício, onde ganhava um dinheirinho por fora, passando cola para os alunos e vestibulandos pois à época não existia ENEM. Onde conseguia a cola, não me perguntem. Marocão tinha mistérios indevassáveis. Seu ideal de vida era induzir terceiros a erro, verdadeiro 171 ambulante. Por isso seu amigo inseparável era um tal de Dr. Macarrão.
Ninguém sabia a profissão, onde morava e quem era esse Dr. Macarrão. Sabe-se apenas que tinha meia idade, vestia-se de terno de linho branco irlandês, Taylor S-120, e paletó tipo jaquetão. Calçava sapatos de bico canoa e untava a vasta cabeleira negra com Gumex (''Dura lex sed lex no cabelo só Gumex.") propagava Ary Barroso. E gravatinha borboleta.
Diariamente, Marocão e Dr. Macarrão procuravam nos jornais os convites para os casamentos chiques da sociedade e compareciam a eles sem serem convidados. O problema é que no auge da festa um podia empulhar o outro. E naquele casamento de classe média em Santo Amaro, na hora em que a noiva ia partir o bolo, Marocão pediu a palavra "pra saldar os jovens nubentes". Então, quando os convidados esperavam ansiosos, por suas palavras, Marocão escafedeu-se: "Boa noite a todos! Para saudar os noivos, eu me passo estas palavras ao copiloto Jarbas Júnior!" E apontou para Dr. Macarrão, que estava ao seu lado. Tomado de surpresa, Dr. Macarrão gaguejou: "Senhoras e senhores. Neste momento, eu estou sem assunto para o momento!" E se picou, porta afora, com o pai da noiva correndo atrás deles: "Peguem esses safados!"
Arthur Carvalho, da Academia Olindense de Letras - AOL