Brasil, o dublê de rico

O progresso é a consequência natural do desenvolvimento; só conseguiremos ser um país verdadeiramente progressista quando formos desenvolvidos.

Publicado em 05/09/2024 às 10:39 | Atualizado em 05/09/2024 às 10:48

No nosso país, popularizou-se a expressão "dublê de rico" para adjetivar aquela pessoa que ostenta uma falsa riqueza, buscando mostrar muito mais do que realmente possui. Para isso, o dublê invariavelmente se preocupa mais em estar nas melhores festas, ostentar (mesmo que de forma falsa) as melhores grifes, beber os melhores drinks e, para tanto, gasta tudo o que tem e o que não tem, deixando de lado questões muito mais importantes, como um bom plano de saúde, uma boa moradia, uma educação de qualidade e estabilidade financeira — questões básicas para o desenvolvimento pessoal, social e econômico. Entretanto, esse indivíduo prefere viver uma farsa de forma imediata, vazia e fugaz.

O dublê de rico se coloca em uma posição na qual concentra suas energias e expectativas em questões absolutamente secundárias, preocupando-se mais em parecer ser do que em realmente ser.

Bem, introduzi a figura do dublê de rico para fazer um paralelo com o estado brasileiro — não a república, mas o estado como um todo, independente de seus mandatários — um estado sequestrado por uma pauta progressista vazia.

Enquanto os países desenvolvidos já possuem um elevado nível de desenvolvimento socioeconômico, medido por critérios como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), renda per capita e Produto Interno Bruto (PIB), com serviços de saúde, educação e segurança prestados de forma satisfatória a toda a sociedade, o Brasil ainda engatinha nessas questões.

Em grande parte das cidades, nem sequer possui saneamento básico, obrigando brancos, negros, indígenas, gays e heterossexuais a conviverem com esgoto a céu aberto, em condições equivalentes às dos países mais subdesenvolvidos do planeta.

Diferentemente do Brasil, os países desenvolvidos já têm suas necessidades básicas supridas, o que lhes permite intensificar discussões sobre questões secundárias. Não que essas questões não sejam importantes, mas inegavelmente são secundárias para um país com um IDH tão baixo quanto o do Brasil, que ocupa a 89ª posição entre 193 nações, atrás de países como Peru, Irã, Sri Lanka e Argentina.

Pois bem, antes de impor uma pauta progressista, sequestrando assim a atenção de toda a sociedade brasileira para discussões como linguagem neutra, liberação de armas, banheiros unissex, liberação da maconha e outros temas que, embora importantes, são inequivocamente secundários e para a maioria esmagadora da sociedade, absolutamente irrelevantes, o Brasil — o dublê de país desenvolvido, o dublê de rico — deveria se concentrar em resolver os problemas básicos de uma nação em desenvolvimento para então ocupar, tempo, espaço e verbas públicas para a discussão dessas pautas progressistas com mais tranquilidade e assertividade.

O progresso é a consequência natural do desenvolvimento; só conseguiremos ser um país verdadeiramente progressista quando formos desenvolvidos. E para que isso aconteça, precisamos focar no que realmente importa, sem deixar de lado questões atuais, mas dando ênfase aos problemas estruturais e sociais. Como o dublê de rico que só se preocupa em parecer ser rico, o Brasil só se preocupa em parecer ser desenvolvido.

Ivo Machado, advogado

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