Os 30 anos do "Vamos Abraçar o Sol"

Por uma interessante coincidência, este artigo no Jornal do Commercio sai exatamente 30 anos depois do primeiro "Vamos Abraçar o Sol".

Publicado em 06/09/2024 às 0:00 | Atualizado em 06/09/2024 às 16:44

O verão inicia oficialmente no Brasil no dia 21 de dezembro. Em Pernambuco a estação tem a tradição de começar no dia 7 de setembro, coincidindo com a abertura da temporada de praia e o desfile das Forças Armadas. Que já foi na Avenida Conde da Boa Vista e Avenida Cruz Cabugá e atualmente é na Avenida Mascarenhas de Moraes.

Em 1972,, o português Jota Raposo, que chegou ao Brasil com 10 anos e atuou na TV Excelsior de São Paulo, TV Globo do Rio e TV Morena, em Mato Grosso. veio trabalhar em Olinda Foi um dos fundador da TV Globo Nordeste, onde ocupou vários cargos, como comentarista esportivo, produtor. Em 1990 passou a diretor de programação.

Foi quando a ideia de aproveitar essa abertura de verão, que os pernambucanos sempre comemoraram com festas nos clubes sociais, para promover um evento, que chamou de Vamos Abraçar o Sol. O local escolhido foi em frente ao Edifício Acaiaca, que sempre foi um ponto ícone da praia de Boa Viagem, principal ponto de paquera, especialmente nas manhãs dos domingos. Era o famoso prédio da Avenida Boa Viagem, 3232.

O primeiro aconteceu em 1974. Começava às 22h, logo depois da novela das 8, para não furar a rígida programação da Globo. Um palco, digamos modesto em relação aos atuais, era armado na areia. A primeira versão não teve um grande público, mas acabou sendo muito comentado, antecipando um enorme sucesso nas suas 10 edições e até provocou protestos depois que foi anunciado o final do evento. A festa, sempre animadíssima, varava a madrugada, até o aparecimento do sol,

Era um evento que servia para curtir a vida e a natureza, a paz, amor, amizade. Com a nossa costumeira imodéstia, chegou a ser chamado de Woodstock Brasileiro, referência ao famoso festival norte-americano de música.

Na época a Avenida Boa Viagem era mão dupla e, claro, se formou um gigantesco engarrafamento. Já na segunda edição, o Departamento de Trânsito implementou normas, como proibindo o estacionamento de carros na avenida por vários quarteirões, tentando controlar a multidão, que aumentava a cada ano. Superlotando não apenas a faixa de areia, mas o calçadão e a própria as faixas de carros

A animação basicamente era garantida por bandas locais. Como três que não existem mais: Contrapeso, Enigma e Sagrado. Revezavam com cantores garantindo que a música não parasse. Os mais resistentes brincavam até o sol parecer, quando com protestos, era definido o fim da festa. Outros, exaustos, deitavam na areia, para recuperar as forças.

Claro que surgiam alguns problemas, mas nada mais sério, inclusive pela presença da Rádio Patrulha, que aparecia na hora, especialmente para agir com os que exageravam na bebida. Sim, é bom lembrar, não havia ainda o consumo exagerado de drogas. Várias barracas eram armadas na área para a venda especialmente de cerveja. Uma delas, evidentemente, era patrocinadora da festa.

As empresas de ônibus criaram linhas especiais de vários bairros para Boa Viagem. Na época poucos jovens ricos tinham carros ou conseguiam do pai emprestado. Funcionavam até o final da festa. E muita gente ia dormir na casa de algum amigo em Boa Viagem. Um conhecido empresário me lembrou que dormiu com mais 18 companheiros, pelo chão de um apartamento, aproveitando a boa vontade da dona da casa, que até preparava café da manhã para eles,

Como era na praia, dominavam os trajes informais e muita gente ia de maiô ou short, aproveitando para terminar a festa com um banho de mar. Todos que tiveram a oportunidade de participar da festa vão recordá-las com carinho. Claro que a paquera rolava solta.. Recordo até que fiz uma reportagem com seis casais conhecidos na nossa sociedade que começaram a namorar nesses eventos. Depois, tentaram fazer outras versões, parecidas que nunca emplacaram.

Por uma interessante coincidência, este artigo no Jornal do Commercio sai exatamente 30 anos depois do primeiro Vamos Abraçar o Sol, que aconteceu no dia 6 de setembro de 1994.

 

João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1

 

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