O preço é o mesmo
Motorista de taxi, quando morava em Paulista, Nado costumava participar das farras da rapaziada, às margens do riacho Passarinho,....

Aldo Paes Barreto voltou às lides com a gota, para brilhar na página Opinião do DP, antigamente povoada por grandes cronistas. Em vez de escrever bobagens sobre cidadezinhas do interior ou autores mortos e sepultados há anos para demonstrar cultura literária enchendo nosso saco está recordando episódios históricos, interessantes e urbanos de Recife. Inspirado em seus relatos vou contar a estória de Nado, figura folclórica de Olinda.
Motorista de taxi, quando morava em Paulista, Nado costumava participar das farras da rapaziada, às margens do riacho Passarinho, que banhava terrenos próximos ao clube Sítio do Pica-Pau Amarelo. E como cozinhava bem, logo tornou-se o cozinheiro "oficial" da turma. Até aí, tudo bem. Porém, segundo as más línguas e boateiros de sempre que se diziam seus amigos, toda vez que ele viajava por força da profissão para Natal, João Pessoa e Maceió, terminava levando gaia da esposa que tanto amava.
Magoado e resolvendo esquecer o passado, nosso saudoso Nado mudou-se para Olinda, onde inaugurou um bar vizinho ao Supermercado Comprebem, no Bairro Novo. Amargurado, vivia sendo provocado pela turma remanescente de Paulista. Seu tempero era maravilhoso, mas seus grosseiros atendimentos tornaram-se famosos, o que incentivava a provocação dos fregueses.
Vou chegando ao bar de Nado, ao entardecer, encontro Fernando Palito promotor público, tomando chope, já meio triscado. Lá pras tantas, surge um caranguejo andando, zonzo, por baixo das mesas, Fernando chama Nado, que estava despachando: "Nado, esse caranguejo veio de onde?" e Nado: "Pergunte a ele." E Fernando: "pergunte você e traga uma caninha." E Nado: "Não vendo cachaça no meu estabelecimento." E Fernando: "Interessante, o Leite, restaurante tradicional e de classe vende." E Nado: " Então, vá tomar sua cachacinha nele!"
Levei meu primo carioca Bernardino Madureira de Pinho, Madu, acostumado a almoçar e jantar no Bife de Ouro do Copacabana Palace, rapaz finíssimo, pra almoçar uma lagosta ao coco em Nado. Contente com a deliciosa lagosta, Madu pediu um "Cointreau" de sobremesa, veio em metade de um copo grande e grosso. Reclamei: Nado, Cointreau é licor francês. Deve ser servido em pequeno cálice. E o bondoso Nado, firme e prático: "O preço é o mesmo!" Virou as costas e se picou.
Arthur Carvalho, da Academia Olindense de Letras - AOL