Artigo: "Que vença o eleitor"

A análise acerca da influência dos meios de comunicação tradicionais ganhou ainda mais força após os episódios de agressão verbal e física

Publicado em 22/09/2024 às 13:09

Nem só de espetáculo midiático vivem os eleitores. Na campanha eleitoral deste ano, a análise acerca da influência dos meios de comunicação tradicionais, em contraste com o peso dos meios digitais na formação da opinião e das escolhas do cidadão, ganhou ainda mais força após os episódios de agressão física e verbal entre candidatos, durante debates televisivos, na disputa da maior capital brasileira.

Um aspecto importante para compreender as nuances da conjuntura de cada eleição é perceber qual agenda se torna predominante, ou seja, quais temas se sobressaem nas proposições dos candidatos e são absorvidos nas diversas parcelas do eleitorado.

Os programas no rádio e na televisão, assim como os meios digitais, cumprem o papel de pautar temas sobre os quais os postulantes apresentam propostas ou apontam desafios ainda não solucionados por quem está no poder.

Muitas vezes, os fatos que se passam nas ruas, determinados embates, ganham força e também são projetados nas mensagens eleitorais. E, dessa maneira, cada campanha tem um tema-força, sobre o qual os debates se centram, com o poder de alavancar candidaturas ou servir como pedra de tropeço para determinados aspirantes.

Discussão na eleição municipal

Quando se trata de uma eleição municipal, esse tema-força está, geralmente, relacionado a alguma lacuna da gestão em realizar ações e programas para atender uma ou mais de uma necessidade da população.

Outras vezes, a temática central está relacionada a algum fato ou característica de atores políticos locais, levando a uma pessoalização do debate eleitoral.

A performance - ou a falta dela - se torna mais importante do que o conteúdo discursivo, o que não significa, no entanto, que os eleitores não tenham suas percepções sobre quais lacunas das políticas públicas mais os afetam e têm um peso mais expressivo na sua escolha.

O que significam as pesquisas

A pesquisa Genial Quaest, realizada no último mês de agosto, em 24 capitais brasileiras, apontou que a segurança é o tema que mais preocupa os eleitores em oito cidades, três delas os maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro.

No Recife, para 36% dos eleitores a segurança é o problema mais grave que a capital pernambucana enfrenta hoje, seguido por saúde, com 21%.

Levantamento do mesmo instituto, realizado no mês de setembro, demonstrou que 58% dos eleitores do Recife são a favor do uso de armas de fogo pela Guarda Civil Municipal.

Os debates televisivos com os candidatos a prefeito do Recife ainda não foram realizados, mas, a essa altura da disputa, a segurança pública ainda não tem sido o centro das propostas apresentadas pelos candidatos.

Rede creches é o tema no Recife

Até o momento, no entanto, o tema predominante na agenda da eleição recifense não é a segurança pública, e sim a gestão da rede de creches no modelo atual da Prefeitura do Recife.

Foi a partir dessa pauta, por exemplo, que houve a concessão de direito de resposta mais extensiva da presente disputa, em decisão favorável ao prefeito João Campos (PSB) em relação ao candidato Gilson Machado (PL).

É provável que a campanha eleitoral de 2024 se encerre com as grandes questões das cidades fora do centro das discussões políticas.

Existe claramente uma descrença dos eleitores sobre as promessas com ares megalomaníacos que costumam rechear os discursos dos atores políticos.

Descolamento dos problemas reais

Por outro lado, parece que a capacidade de se comunicar, de criar engajamento e proximidade pelo discurso de cunho mais emocional, é ainda o que impulsiona a popularidade e embala as campanhas vitoriosas.

Assim, ao final de mais um ciclo, resta a impressão de que não temos clareza sobre o que queremos e o que teremos para nossas cidades, para nossos estados e para o nosso país.

A vitória nas urnas não parece solucionar nossos anseios e nem apontar para o futuro. É torcer para que, ao menos, vençam aqueles com capacidade de entregar algo melhor. Tomara.

Priscila Lapa, jornalista e doutora em Ciência Política.

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