Os desafios do Ensino Médio em Pernambuco
Os desafios pela frente são muitos e envolvem também o investimento em nossas escolas de ensino fundamental e o apoio às prefeituras
O mundo passa por transformações exponenciais na organização do mercado de trabalho, com a destruição de velhas ocupações e a criação de novas. Na questão climática, que exige a adaptação das cidades e mudanças na economia, na fragmentação dos meios de informação, que abre espaço ao tribalismo promovido pelos algoritmos das redes sociais e na ampliação da desigualdade que desafia os Estados a desenvolverem uma nova geração de políticas públicas.
A velocidade das mudanças e sua complexidade impactam diretamente em uma instituição da antiguidade: a escola, que em geral ainda opera com a característica fordista da preparação para o mercado de trabalho de maneira industrial, com o currículo definido pelos descritores de avaliações e vestibulares.
Essa talvez seja a maior contradição entre a escola de hoje e a demanda do futuro. Enquanto o futuro requer pessoas com capacidade de aprender ao longo da vida, adaptar-se à mudanças, colaborar, atuar com empatia e criatividade, nossa escola está presa a um "modelo de fazer" que dialoga com o mundo do passado, em que armazenar informação e resolver "problemas com respostas únicas" era medida de sucesso.
O desafio da rede pernambucana de educação é o de transitar entre esses dois mundos, o do passado, medido pelas avaliações nacionais e pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o do futuro, formando indivíduos capazes de navegar no mundo complexo que se avizinha.
Para vencer esses desafios, são necessárias a mudança no currículo, a formação e o estímulo aos professores para que utilizem estratégias pedagógicas além das aulas expositivas e o investimento na ampliação do repertório cultural dos nossos estudantes.
No currículo, iremos ampliar a Formação Geral Básica (FGB) para 800 horas por ano e utilizar os itinerários formativos como aprofundamento da formação geral, de acordo com os interesses dos nossos estudantes. Os itinerários formativos serão reduzidos de 14 para 5, um deles de formação técnica.
Da forma como estão hoje, os 14 itinerários se fragmentam em centenas de eletivas, o que dificulta a organização escolar, a avaliação e o estabelecimento da necessária articulação de saberes. Apesar desse enorme conjunto de eletivas, em muitas de nossas escolas apenas um itinerário é oferecido, o que não permite sua função de responder aos interesses dos estudantes.
No caso do itinerário técnico, não daremos espaço ao improviso: vamos prover, por intermédio de instituições renomadas, como o Senai, o Sesc, o Serta e o Cesar School, que hoje operam o TrilhaTec, nosso programa de qualificação profissional que é um sucesso, com milhares de vagas preenchidas em todo o estado. Evidentemente a escolha pelo itinerário técnico a ser oferecido responderá à demanda da escola e de seus estudantes.
Queremos nossos alunos ampliando suas capacidades de compreensão e produção de textos. Além de prever estas atividades no novo currículo, teremos um programa específico, com ferramentas de formação de professores, apoio na correção de textos, estímulo à leitura dentro e fora da escola e concursos regionais e estaduais de redação.
Nas áreas de Ciências, a formação envolverá o uso de estratégias mão na massa, estimulando os estudantes a experimentar e construir hipóteses.
Para apoiar nossos estudantes, uma nova função será criada em nossas escolas: a do orientador educacional, responsável pela observação e apoio aos estudantes em suas dificuldades, sejam elas pedagógicas ou relacionais, além de ser a ponte entre a unidade de ensino e a família, no caso de necessidades específicas dos estudantes que envolvam um trabalho conjunto.
Os desafios pela frente são muitos e envolvem também o investimento em nossas escolas de ensino fundamental e o apoio às prefeituras para a melhoria da qualidade da educação nessa etapa tão fundamental quanto "esquecida" pelas políticas públicas recentes. Vamos vencê-los, de mãos dadas com nossos educadores, prefeitos e prefeitas, transformando Pernambuco em um estado educador.
Alexandre Schneider, secretário de Educação de Pernambuco