A importância da ciência em momentos de crise
O Brasil está em chamas! Superar a atual crise ambiental exige mais do que soluções emergenciais. E a ciência é essencial nesse momento....

O recurso ao conhecimento científico se faz crucial, tal como ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial.
Com a vulnerabilidade dos navios-tanque a ataques de submarinos alemães, entre 1941 e 1942 os EUA perderam um quarto de sua tonelagem de petroleiros. Em um ano, os U-boats afundaram um número quatro vezes maior de navios do que era possível repor. Se fez urgente a construção de grandes oleodutos para transportar petróleo da Costa do Golfo até a Costa Leste, onde se concentrava o parque industrial.
Entretanto, a tecnologia então existente, limitada a dutos de 8 polegadas, era inadequada. Porém, o conhecimento necessário já se encontrava disponível. Nas décadas de 1920 e 1930, o engenheiro William Heltzel, treinado no National Bureau of Standards, havia desenvolvido métodos para calcular o fluxo de fluidos e sua fricção em tubulações, viabilizando a construção de oleodutos de maior porte. Considerado à época sem maior impacto prático, seu trabalho mostrou-se vital quando surgiu a necessidade de transporte rápido e seguro de grandes volumes de petróleo.
Em 1942, sob consultoria de Heltzel e usando técnicas inovadoras de soldagem, o governo americano iniciou a construção dos oleodutos Big Inch (24 polegadas) e Little Big Inch (20 polegadas), para levar petróleo bruto e refinado, como gasolina e querosene, por mais de 2.000 quilômetros. Esses oleodutos permitiram o transporte de mais de 350 milhões de barris, garantindo o abastecimento de combustível para o esforço aliado, sem o que a guerra global "não poderia ter sido vencida".
No Brasil ameaçado pelos incêndios florestais, a ação governamental é urgentemente necessária. No entanto, é imperativo que a ciência não seja esquecida. Já existe entre nós conhecimento capaz de prevenir e combater queimadas. Tecnologias de monitoramento por satélite e modelos climáticos desenvolvidos pelo INPE são eficazes para prever e detectar focos de incêndio, enquanto drones, inteligência artificial e sensoriamento remoto podem aprimorar a intervenção rápida. Pesquisas agrícolas em práticas sustentáveis, como o plantio direto e sistemas agroflorestais, que podem substituir o uso do fogo na agricultura, vêm sendo feitas pela Embrapa.
A ciência brasileira oferece ainda soluções como zoneamento ecológico, programas de reflorestamento com espécies nativas para aumentar a resiliência das florestas e o manejo integrado do fogo, já estudado para biomas como o Cerrado. Políticas de incentivo à formação de brigadas especializadas e educação ambiental são fundamentais para promover o uso dessas ferramentas, com a conscientização das comunidades envolvidas.
Assim como a ciência se mostrou decisiva em situações passadas, ela é igualmente essencial para a solução dos problemas ambientais do Brasil. Somente um esforço conjunto e embasado no conhecimento científico mais atual permitirá combater efetivamente as queimadas e a exploração predatória de nossos biomas, promovendo um futuro mais sustentável.
Celso P. de Melo , físico, professor da UFPE. membro da Academia Pernambucana de Ciências