Uma lancha que fez transporte coletivo no Recife

A Garcia D'Avila foi comprada na Holanda e fazia o roteiro Recife Antigo-Brasília Teimosa. Era tempo da gestão do prefeito Augusto Lucena....

Publicado em 11/10/2024 às 0:00 | Atualizado em 11/10/2024 às 7:19

Em 1969, o prefeito Augusto Lucena esteve em Amsterdam e ficou encantado com as lanchas que percorriam os canais da capital holandesa. Imaginou-as sendo usadas no transporte de passageiros pelo Rio Capibaribe. Ao retornar, determinou que a Companhia de Transportes Urbanos, a estatal CTU da Prefeitura do Recife, fizesse um estudo sobre o uso dessa modalidade no Recife. Seu sucessor, Geraldo Magalhães Melo, reativou o projeto e autorizou a compra de uma, que seria usada como piloto para uma frota delas.

Era um modelo usado, mas em bom estado. Veio de navio e, ao chegar ao Recife, antes de ser utilizada, passou por reformas, num estaleiro no Pina, com mudança no teto e no piso. Foi pintada de vermelho, branco, verde e azul, com a marca da CTU nas laterais, em tamanho grande. Tinha banheiro e bar.

 Lancha foi batizada com o nome de Comandante Garcia D'Ávila, homenagem ao capitão de fragata pernambucano Garcia D'Ávila Pires de Carvalho e Albuquerque. Foi o comandante do cruzador Bahia, da Marinha do Brasil, que faleceu heroicamente no naufrágio do navio em 4 de julho de 1945.

 Foi determinado que a primeira linha a ser operada pela lancha seria a Recife- Brasília Teimosa, saindo do atual Marco Zero até um pier construído na Bacia do Pina. A lancha demorou a entrar em funcionamento depois de pronta, porque a ponte rodoferroviária estava em reforma, impedindo a passagem da lancha por aquele trecho do Rio Capibaribe. A mesma ponte que, atualmente, passa por nova reforma, sem previsão de ser reaberta. A lancha começou a operar em dezembro de 1970, fazendo o itinerário do Recife Antigo até Brasília Teimosa. Devido à obra da ponte, era feito o transbordo de forma gratuita para o ônibus da CTU, até a Conde da Boa Vista.

 No início, foi um sucesso. No primeiro dia transportou 1.600 passageiros, fazendo 50 viagens nos dois sentidos, que duravam em média 30 minutos. A capacidade era de 82 passageiros, que tinham que ir sentados. Em cima das cadeiras, ficavam os coletes salva-vidas. A passagem tinha o mesmo valor dos ônibus.

 Em 1975, a lancha parou de operar no transporte de passageiros na linha criada, devido a obras nos cais flutuantes. Em novembro daquele ano voltou a atender aos usuários. Em 1976, a lancha da CTU apresentava baixa demanda, transportando apenas 30 passageiros por viagem.

 Em junho daquele ano, a lancha saiu mais uma vez de operação para reparos. A previsão era de voltar com uma nova pintura, nas mesmas cores dos ônibus opcionais: laranja outono, azul safira e branco. Mas, em março de 1977, ainda não havia voltado a circular nos rios da cidade. O motivo para tanto reparo, segundo os técnicos da embarcação, era que havia sido comprada da Holanda com cinco anos de uso, e o motor já não aguentava muita coisa. Foi quando decidiram adquirir um motor novo no sul do país.

 Na volta, passou por uma reforma, depois de apresentar com sinais de vandalismo, inclusive com os bancos, que eram de couro, rasgados. Numa nova tentativa de salvar a lancha, foi definido um novo percurso para o equipamento, ligando o Grande Hotel à Ponte Motocolombó, em Afogados. Depois, passou a ser usada para passeios turísticos, saindo de um píer na Rua do Sol, perto da Avenida Guararapes. Uma experiência que durou apenas seis meses, por falta de passageiros.

A Garcia D'Ávila deixou de circular no início dos anos 80. Ninguém sabe aonde foi parar. E o Governo do Estado chegou a iniciar, muitos anos depois, um projeto de transporte coletivo pelo Rio Capibaribe, que acabou em pouco tempo, deixando um vultoso prejuízo.

 

João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1

 

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