Devemos condenar os institutos de pesquisas?
Mais uma vez, ouvi reclamações sobre empresas de pesquisas. Novamente, afirmo que elas são injustas. Pesquisa eleitoral, sugere prognóstico
Não condenem os institutos de pesquisa que: 1) Divulgam o resultado da intenção de voto como ela é, mais a margem de erro; 2) Não se preocupam com o interesse do contratante ou de qualquer político; 3) Consideram que a divulgação da pesquisa é informação pública.
Mais uma vez, ouvi reclamações sobre empresas de pesquisas. Novamente, afirmo que elas são injustas. Pesquisa eleitoral, em especial a intenção de voto, sugere prognóstico, mas não o resultado real. A pesquisa eleitoral, quando analisada em série e considerando outras variáveis, como a rejeição, tem poder de previsão.
A cada eleição, uma nova empresa de pesquisa. Realidade que merece elogio. Pois os indivíduos são livres para criarem, inovarem e entrarem no mercado extremamente competitivo da eleição. Contudo, me assusto quando grande quantidade de veículos de comunicação divulga pesquisas eleitorais. Não estou defendendo o fim do livre mercado, mas transparência.
É fundamental que um veículo de comunicação divulgue várias pesquisas para que no final o público possa verificar a coerência dos resultados: pesquisa versus resultado real. Mas se o meio jornalístico publica uma única pesquisa em dado momento da eleição, ele fez um desserviço para a sociedade.
Por que só uma pesquisa naquele instante da eleição? Pode acontecer também de uma única pesquisa ser divulgada às vésperas da eleição. Ora, qual a razão de um veículo de comunicação divulgar uma única pesquisa faltando 48 horas para o pleito eleitoral, se não fez isto em nenhum instante do ano 2024?
São vários os políticos que acreditam que pesquisa orienta a escolha do eleitor. Premissa viável, pois o eleitor pode fazer a opção pelo voto útil, estratégico. Neste caso, escolher o candidato que está à frente. Mas não só isto! O político recebe uma pesquisa. Descobre que está atrás e pede para outra empresa fazer uma pesquisa. Nesta última, ele lidera. Por consequência, decide registrar e publicar a pesquisa após saber, previamente, do seu resultado.
Outro caso: O adversário do candidato X publica a pesquisa na quarta à tarde. Oito dias depois, o seu adversário, Y, publica outra pesquisa. Na primeira, X está na frente. Na segunda, é Y que lidera com ampla margem. Ora, como pode, num intervalo tão curto, os eleitores mudarem de opinião? São vários os candidatos que transformam a pesquisa numa equivocada estratégia eleitoral.
Por que um candidato faz o registro da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após saber do resultado? Simples: não quer mostrar ao eleitor que está atrás do adversário. Bobagem! Pois o candidato já está previamente sofrendo do autoengano, pois ele está procurando a melhor pesquisa para divulgar. Ele não está preocupado com o resultado real da pesquisa. Mas com o resultado que ele sonha, deseja.
Está presente na eleição, a guerra de ilusões. Cada competidor quer ter a sua empresa de pesquisa preferida. Ou as várias empresas. O que constrói a preferência de um candidato para com uma empresa de pesquisa? Simples: “A melhor empresa de pesquisa para mim é aquela que mostra que estou na frente”.
A grande quantidade de pesquisas divulgadas gerou a judicialização da intenção de voto. Um magistrado, com raro conhecimento de estatística, proíbe a divulgação da pesquisa alegando falta de alguma informação. Mas qual informação, se todas elas estão no site do TSE? Recomendo sinceridade à Justiça. Ou seja: O magistrado suspende a divulgação por ter desconfiança da honestidade da pesquisa ou em razão de equívoco.
Importante lembrar ao magistrado, que a desconfiança para um não deve significar a desconfiança para todos. Por exemplo: Se uma empresa de pesquisa faz sistematicamente pesquisa numa cidade e as divulga com frequência, por que proibir a divulgação dos resultados? Porém, se um instituto não tem tradição de divulgar pesquisa na cidade Y, talvez o impedimento da divulgação seja justificado.
Conclusão: 1) Candidatos inteligentes têm sua empresa de pesquisa desde o início da eleição; 2) Candidatos inteligentes não gastam dinheiro com a guerra de divulgação de pesquisas, pois, já têm as suas pesquisas. Portanto, não se iludem com os resultados de outras pesquisas; 3) Veículos de comunicação contratam mais de uma pesquisa durante o período eleitoral para uma mesma cidade. Com isto, revelam o seu compromisso com a verdade do resultado e constroem credibilidade; 4) Empresas de pesquisa em busca de boa reputação optam por divulgar várias pesquisas sobre o pleito eleitoral de uma dada cidade para depois mostrar ao mercado e a sociedade o seu meritório desempenho.
Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa e Estratégia.