Devemos condenar os institutos de pesquisas?

Mais uma vez, ouvi reclamações sobre empresas de pesquisas. Novamente, afirmo que elas são injustas. Pesquisa eleitoral, sugere prognóstico

Publicado em 13/10/2024 às 0:00

Não condenem os institutos de pesquisa que: 1) Divulgam o resultado da intenção de voto como ela é, mais a margem de erro; 2) Não se preocupam com o interesse do contratante ou de qualquer político; 3) Consideram que a divulgação da pesquisa é informação pública.

Mais uma vez, ouvi reclamações sobre empresas de pesquisas. Novamente, afirmo que elas são injustas. Pesquisa eleitoral, em especial a intenção de voto, sugere prognóstico, mas não o resultado real. A pesquisa eleitoral, quando analisada em série e considerando outras variáveis, como a rejeição, tem poder de previsão.

A cada eleição, uma nova empresa de pesquisa. Realidade que merece elogio. Pois os indivíduos são livres para criarem, inovarem e entrarem no mercado extremamente competitivo da eleição. Contudo, me assusto quando grande quantidade de veículos de comunicação divulga pesquisas eleitorais. Não estou defendendo o fim do livre mercado, mas transparência.

É fundamental que um veículo de comunicação divulgue várias pesquisas para que no final o público possa verificar a coerência dos resultados: pesquisa versus resultado real. Mas se o meio jornalístico publica uma única pesquisa em dado momento da eleição, ele fez um desserviço para a sociedade.
Por que só uma pesquisa naquele instante da eleição? Pode acontecer também de uma única pesquisa ser divulgada às vésperas da eleição. Ora, qual a razão de um veículo de comunicação divulgar uma única pesquisa faltando 48 horas para o pleito eleitoral, se não fez isto em nenhum instante do ano 2024?

São vários os políticos que acreditam que pesquisa orienta a escolha do eleitor. Premissa viável, pois o eleitor pode fazer a opção pelo voto útil, estratégico. Neste caso, escolher o candidato que está à frente. Mas não só isto! O político recebe uma pesquisa. Descobre que está atrás e pede para outra empresa fazer uma pesquisa. Nesta última, ele lidera. Por consequência, decide registrar e publicar a pesquisa após saber, previamente, do seu resultado.

Outro caso: O adversário do candidato X publica a pesquisa na quarta à tarde. Oito dias depois, o seu adversário, Y, publica outra pesquisa. Na primeira, X está na frente. Na segunda, é Y que lidera com ampla margem. Ora, como pode, num intervalo tão curto, os eleitores mudarem de opinião? São vários os candidatos que transformam a pesquisa numa equivocada estratégia eleitoral.

Por que um candidato faz o registro da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) após saber do resultado? Simples: não quer mostrar ao eleitor que está atrás do adversário. Bobagem! Pois o candidato já está previamente sofrendo do autoengano, pois ele está procurando a melhor pesquisa para divulgar. Ele não está preocupado com o resultado real da pesquisa. Mas com o resultado que ele sonha, deseja.
Está presente na eleição, a guerra de ilusões. Cada competidor quer ter a sua empresa de pesquisa preferida. Ou as várias empresas. O que constrói a preferência de um candidato para com uma empresa de pesquisa? Simples: “A melhor empresa de pesquisa para mim é aquela que mostra que estou na frente”.

A grande quantidade de pesquisas divulgadas gerou a judicialização da intenção de voto. Um magistrado, com raro conhecimento de estatística, proíbe a divulgação da pesquisa alegando falta de alguma informação. Mas qual informação, se todas elas estão no site do TSE? Recomendo sinceridade à Justiça. Ou seja: O magistrado suspende a divulgação por ter desconfiança da honestidade da pesquisa ou em razão de equívoco.
Importante lembrar ao magistrado, que a desconfiança para um não deve significar a desconfiança para todos. Por exemplo: Se uma empresa de pesquisa faz sistematicamente pesquisa numa cidade e as divulga com frequência, por que proibir a divulgação dos resultados? Porém, se um instituto não tem tradição de divulgar pesquisa na cidade Y, talvez o impedimento da divulgação seja justificado.

Conclusão: 1) Candidatos inteligentes têm sua empresa de pesquisa desde o início da eleição; 2) Candidatos inteligentes não gastam dinheiro com a guerra de divulgação de pesquisas, pois, já têm as suas pesquisas. Portanto, não se iludem com os resultados de outras pesquisas; 3) Veículos de comunicação contratam mais de uma pesquisa durante o período eleitoral para uma mesma cidade. Com isto, revelam o seu compromisso com a verdade do resultado e constroem credibilidade; 4) Empresas de pesquisa em busca de boa reputação optam por divulgar várias pesquisas sobre o pleito eleitoral de uma dada cidade para depois mostrar ao mercado e a sociedade o seu meritório desempenho.

Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa e Estratégia.

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