Qual o perfil ideológico dos prefeitos e das câmaras municipais pernambucanas?

A escala ideológica esquerda-direita é uma forma muito comum de se posicionar politicamente, tendo raízes na Assembleia Constituinte Francesa

Publicado em 16/10/2024 às 5:00

A cada dois anos, a festa da democracia acontece no Brasil. Cada brasileiro vota no candidato que lhe convém e o processamento de seus votos definirá se os brasileiros irão acordar com o pé esquerdo ou com o pé direito no ano seguinte. Mas quando falo em despertar com pé direito ou esquerdo, eu não me refiro à expressão popular de acordar com disposição ou mal-estar. Na verdade, eu me refiro à cara ideológica que as instituições políticas terão. Explico. Se for uma festa das eleições municipais, você poderá acordar diante de uma câmara de vereadores mais socialista (pé esquerdo) ou mais conservadora (pé direito).

A escala ideológica esquerda-direita é uma forma muito comum de se posicionar politicamente, tendo raízes na Assembleia Constituinte Francesa de 1789. Naquela ocasião, decidia-se sobre os limites constitucionais do poder monárquico. Os constituintes que buscavam preservar o poder absoluto do rei localizavam-se nos assentos à direita, enquanto os revolucionários que buscavam o fim da monarquia absolutista sentavam-se à esquerda.

O episódio foi tão marcante, que os termos direita e esquerda tiveram forte penetração no vocabulário político, persistindo até hoje. Contudo, seu sentido se atualizou ao longo dos séculos. Nos dias atuais, o arquétipo da direita se caracteriza pela defesa do mercado como principal forma de alocar recursos, enquanto a família e a igreja também podem desempenhar um papel importante, especialmente no âmbito da assistência social. Assim, o Estado deveria gerar bem-estar preferencialmente quando essas instituições falharem em fazê-lo.

Do lado oposto, o arquétipo de esquerda costuma estar associado a uma postura progressista, e a um papel mais generoso e expansivo do Estado no enfrentamento de desigualdades sociais, isto é, visando uma sociedade mais igualitária e menos dependente do mercado.A poucos dias de escolhermos nossos vereadores e prefeitos novamente, cabe relembrarmos em que pé estamos atualmente nessa escala. Como, no Brasil, os entes municipais têm poder de implementar suas próprias políticas públicas, a ideologia dos representantes é um assunto importante.

Mas como medir o perfil ideológico de vereadores e prefeitos? Bem, na Ciência Política, nós desenvolvemos vários indicadores para mensurar preferências políticas. Neste artigo, eu utilizo uma classificação de partidos políticos feita através de questionários a experts em política brasileira no ano de 2018. Cada politólogo responde um survey posicionando todos os partidos em uma escala contínua, e a média das respostas torna-se um indicador de ideologia partidária. A medida utilizada aqui varia de zero (extrema-esquerda) a 10 (extrema-direita) e foi compilada pelos pesquisadores Bolognesi, Ribeiro e Codato (2021).

Com os resultados provisórios do primeiro turno liberados pelo TSE, é também possível identificar o partido de cada prefeito e vereador vitorioso no dia 6 de outubro e associá-lo a seu respectivo escore ideológico.

Na figura, quanto mais vermelho for a cor de um município, mais esquerdista é o partido do prefeito. O município mais vermelho é Sanharó, onde o Partido Comunista do Brasil (PCDOB) reelegeu seu prefeito. A capital do Recife é também ocupada por um partido de esquerda: o Partido Socialista Brasileiro (PSB), porém mais moderado.

Inversamente, a cor azul representa os municípios com prefeitos mais à direita. As dez prefeituras com maior escore nesse espectro são governadas pelo partido União Brasil, que contabiliza 9 municípios. Entre eles: Petrolina, Trindade e Serubim.

Também é possível calcularmos estatísticas mais gerais. A média de escores dos prefeitos é 6.59 em Pernambuco, representando uma leve guinada à direita em relação a 2020 (6.14). Em nossa escala, esse valor sugere que a prefeitura pernambucana é tipicamente de centro-direita, estatística muito próxima da média nacional (6.98). O PSB, que dominava o número de prefeituras no estado, agora teoricamente divide o posto com o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), que é também a agremiação da governadora, demonstrando sua capacidade em fazer prefeitos.

Por sua vez, as legislaturas não distoam dessa tendência, pois estão tipicamente posicionadas na centro-direita, com média de 6.44. Apesar disso, há algumas câmaras pernambucanas dominadas pela esquerda, como é o caso de Sanharó (PCDOB, PSB, PSDB e PT) e Jucati (PDT, PSB).

Com os dados provisórios do TSE, este é o panorama pernambucano após o primeiro turno das eleições de 2024. O estado é tipicamente governado pela centro-direita tanto em suas prefeituras, quanto em suas legislaturas. Além disso, o estado como um todo migrou ligeiramente à direita em relação a 2020.

Pedro Marques, doutorando em Ciência Política

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