Meio ambiente e câncer: a interligação oculta que afeta a saúde de todos
O aquecimento global, além de modificar nosso clima e provocar catástrofes naturais, também representa uma ameaça à saúde humana.
Entre os efeitos colaterais mais preocupantes está o aumento do risco de câncer, especialmente câncer de pulmão, em decorrência da poluição e das alterações ambientais. A associação entre poluição do ar, mudanças climáticas e doenças oncológicas é crescente, e os impactos desse fenômeno nem sempre são percebidos de imediato.
Os gases de efeito estufa, como dióxido de carbono e metano, são responsáveis por reter o calor na Terra, elevando a temperatura do planeta. Esse processo intensifica a poluição do ar, aumentando a concentração de substâncias prejudiciais, como partículas finas e compostos orgânicos voláteis. Substâncias perigosas, como o radônio - um gás radioativo inodoro e incolor com alto potencial cancerígeno - se tornam mais prevalentes em regiões de altas temperaturas.
Além disso, incêndios florestais, que se tornaram mais frequentes devido às condições climáticas extremas, liberam partículas nocivas no ar, agravando a poluição atmosférica e aumentando o risco de câncer de pulmão. Outro aspecto crítico é o impacto das inundações, causadas pelas chuvas intensas que acompanham o aquecimento global. Essas inundações podem liberar substâncias químicas cancerígenas no meio ambiente ao contaminar águas subterrâneas e instalações industriais, expondo a população a compostos perigosos. O transbordamento de esgotos é outro fator que amplia essa contaminação.
As mudanças climáticas também afetam os ecossistemas, aumentando a exposição a patógenos, como vírus, que podem estar associados ao desenvolvimento de certos tipos de câncer. Um estudo recente revelou que um leve aumento na exposição a poluentes respiratórios elevou em 15% a taxa de mortalidade por COVID-19, um alerta para a gravidade da situação. Pacientes com câncer de pulmão, por exemplo, enfrentam riscos ainda maiores diante de doenças respiratórias como a COVID-19.
O impacto psicológico das mudanças climáticas é outro fator preocupante. O estresse provocado por desastres naturais e ondas de calor extremo pode afetar a saúde mental, levando a comportamentos prejudiciais, como o aumento do tabagismo, um dos principais fatores de risco para o câncer.
Na agricultura, o aquecimento global força mudanças na produção, estimulando o uso intensivo de pesticidas e herbicidas, muitos dos quais são classificados como cancerígenos. Isso cria um ciclo perigoso que compromete não apenas o meio ambiente, mas também a saúde da população.
Diante de todos esses fatores, é essencial entender que o combate ao aquecimento global não é apenas uma questão ambiental, mas uma medida urgente de saúde pública. A mitigação das mudanças climáticas e a promoção de ambientes saudáveis são fundamentais para reduzir o risco de doenças graves, como o câncer, e garantir um futuro mais seguro e sustentável para todos.
Murilo Guimarães, médico pneumologista