Roberto Pereira: "A vida é uma grande viagem"

Somos todos passageiros neste mundo passageiro, peregrinos audazes diante das agruras do nosso cotidiano. Confira o texto de Roberto Pereira

Publicado em 26/10/2024 às 18:24

A vida é uma viagem entre duas viagens. Somos todos passageiros neste mundo passageiro, peregrinos audazes diante das agruras do nosso cotidiano. “Nascer já é caminhar”, afirma-nos o poeta João Cabral de Melo Neto, conferindo aos homens e aos bichos o natural movimento em sentido contrário ao sedentarismo.

Tem razão Ruy Barbosa quando, na sua Oração aos Moços, assegurou-nos: “A vida não tem mais que duas portas: uma de entrar, pelo nascimento; outra de sair, pela morte. Ninguém, cabendo-lhe a vez, se poderá furtar à entrada. Ninguém, desde que entrou, em lhe chegando o turno, se conseguirá evadir à saída. E, de um ao outro extremo, vai o caminho, longo, ou breve, ninguém o sabe, entre cujos termos fatais se debate o homem, pesaroso de que entrasse, receoso da hora em que saia, cativo de um e outro mistério, que lhe confinam a passagem terrestre”.

A nossa peregrinação tem como origem a porta de entrada, pelo nascimento, e por destino, a da saída, em direção à eternidade. Somos caminhantes nos quadrantes deste planeta. Mais vale a caminhada do que o ponto de partida.

Se, ao caminharmos, semearmos, no final teremos o que colher, é o que nos garante, com outras palavras, Cora Coralina. Essa viagem, nas asas da esperança, tem como meio de transporte a vida, tecida pelo sonho e pela imaginação.

As ideias constroem o roteiro, rumo e prumo dos que se habilitam às emoções, às alternâncias que formam as turbulências sopradas pelas tristezas, pelos desapontamentos, pelas mazelas do humano, mas também há estabilidade quando das alegrias, das vitórias, da paz de espírito, eis a vida: uma gangorra num pêndulo que oscila entre o contentamento e a desilusão.

O itinerário, que vai do nascimento à morte, é de muitas escalas, porque são muitos os embarques de um mundo de gente chegando, e os desembarques das pessoas que vão deixando de ser gente deste mundo. Aos que chegam, os nossos saudares; aos que partem, os nossos adeuses, lembrando que cada um de nós ainda tomará a morte para viajar pela eternidade.

Daí a necessidade de fazermos dessa estada neste planeta, não uma procura por novas paisagens, mas a permanente busca em apurarmos os nossos olhos às retinas do amor e da paz, da felicidade que não é uma estação, mas um cometimento espiritual, um estado de espírito. Pureza, este o caminho, a verdade e a vida!

Dentre os turistas, os que viajam na viagem desta vida, neste mundo, não saem para outros cenários se não for pensando no retorno. Não voltar seria um drama. Afinal, parafraseando José Américo, ninguém se perde no caminho da volta.

Viajar, à Xavier de Maistre, em torno do quarto, pensando, refletindo, sonhando, caminhando por lugares inimagináveis, andando sem sair do canto, mas alçando as alturas que possam emanar do sonho que leva o homem às altitudes da criatividade, da vontade de sair com vontade de chegar, como fazia o Poeta Ascenso Ferreira quando ia, no seu poema, a Catende.

No final da grande viagem, nesta vida, o adeus às ilusões e aos que ficam pulsando o coração, esta, sim, um descortino ao mistério do infinito que se abre aos que fecham os olhos, deixando tristezas mil, levando a nostalgia do convívio, longo ou breve, de sua estada neste mundo, partindo na ida e partido na saudade, tal e qual Oswaldo Montenegro, “porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade…”

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura do Estado e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.

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