Uma história de muitos legados

Este artigo é dedicado aos 30 anos do Instituto Ayrton Senna, mas também a essa grande educadora brasileira chamada Viviane Senna

Publicado em 30/10/2024 às 8:12 | Atualizado em 30/10/2024 às 8:14

Por Mozart Neves Ramos*

Há trinta anos, a família Senna, sob a liderança da Viviane Senna, deu início à realização de um antigo sonho do saudoso herói brasileiro Ayrton Senna. Seu sonho consistia na esperança de dar a todas as nossas crianças um futuro digno pela educação.

Ele nos fazia acreditar que o Brasil era possível. Foi assim que, no mesmo ano de seu falecimento, foi criado o Instituto Ayrton Senna. A irmã Viviane abdicou então de sua vida pessoal e profissional para que este sonho se tornasse realidade.

O foco consistia em alfabetizar crianças que já haviam perdido a esperança pela escola, que não conseguiram se alfabetizar na idade certa aos sete anos. Com baixa estima, essas crianças estavam prestes a abandonar a sala de aula.

Tratava-se, portanto, não apenas de alfabetizá-las, mas de levantar a sua estima e confiança. O projeto Se Liga tinha essa força, de fazer com que essas crianças acreditassem que seria possível alcançar o sucesso escolar. E, após essa etapa, o desafio seria colocá-las na série mais próxima a sua idade, mediante o programa Acelera Brasil.

Foi através desses dois programas que tive o privilégio, ao assumir a secretária de educação de Pernambuco, de conhecer as atividades do Instituto Ayrton Senna. Com o apoio de empresários brasileiros e do governador Jarbas Vasconcelos, iniciamos, em 2003, um robusto programa de alfabetização e de correção de fluxo escolar em nosso estado.

Ao final dos quatro anos da segunda gestão de Jarbas, havíamos levado esses dois programas para todos os municípios pernambucanos, cujos resultados serviram de inspiração para o país, juntamente com aqueles alcançados no estado de Goiás – pioneiro na implantação dos programas do Instituto.

Reprodução / Instituto Ayrton Senna
Imagem de Ayrton Senna ao lado de crianças - Reprodução / Instituto Ayrton Senna

Os anos se passaram, eu estava em São Paulo como presidente-executivo do Todos pela Educação, movimento pioneiro para mudar o Brasil pela educação, e lá estava comigo a Viviane Senna – liderando a área técnica do movimento. Após seis anos, deixo o Todos para assumir a área de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna.

Naquela oportunidade, em 2014, Viviane entendia que seria a hora de trazer para a educação brasileira as chamadas competências socioemocionais, na perspectiva do desenvolvimento integral de nossos estudantes e professores. Na prática, tais competências eram a base dos programas Se Liga e Acelera, mas agora com o desafio de trazê-las para o currículo escolar no ensino regular.

Para isso, em parceria com o Ministério da Educação, o Instituto realizou um importante evento com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), trazendo ministros de educação de vários países. Aí começava mais uma revolução na educação brasileira.

Não foi fácil, muita gente confundia, naquela oportunidade, essa iniciativa com autoajuda, o que obviamente nada tinha a ver, e isso apenas demonstrava como o país estava distante do verdadeiro conceito de educação integral para o desenvolvimento pleno. Mas, como Viviane costuma dizer, nada vence o bem, e hoje tais competências são a base de todos os currículos contemporâneos no campo da educação mundial.

Foram anos muito ricos para mim, não só no que consegui aprender com o Instituto e, naturalmente, com o próprio convívio com a Viviane – uma pessoa que se entrega por inteiro à causa da educação, às vezes até extrapola, deixando de cuidar de si própria como deveria.

Costumava brincar com ela: “Viviane, assim não dá, você vai a jogo do Bangu e da Seleção Brasileira”, com todo o respeito ao querido Bangu. Mas, queria dizer que ela deveria priorizar algumas coisas para se cuidar, olhar para a própria saúde. Não tinha jeito, eu sempre perdia.

Este artigo é dedicado aos 30 anos do Instituto Ayrton Senna, mas também a essa grande educadora brasileira chamada Viviane Senna, a quem considero como uma irmã.

*Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e foi diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna.

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