O sonho de fazer o mais belo cemitério do País
Roberto Souza Leão tinha o sonho de construir um cemitério particular, no bairro da Várzea, algo de que nossa cidade tinha carência à época
Nesta véspera do Dia de Finados, vou relembrar o sonho de um empresário que queria construir na Várzea o mais bonito cemitério do Brasil. Roberto Souza Leão foi uma figura que fez muito sucesso no nosso mundo jovem. Fiquei seu amigo nos tempos em que eu assinava a coluna “Nova Geração1”, voltada às pessoas e aos fatos ligados à juventude da nossa cidade. Era uma figura muito simpática, agradável, mas que ficou marcado pelas brigas em que se envolveu. Em que, é bom lembrar, sempre acabava ganhando. Fiquei amigo dele.
Um dia, ele me chamou para almoçar na Coudelaria Souza Leão, que ele tinha, na Várzea, numa área grande e muito bonita, com direito a uma vista deslumbrante, que ia até a Zona Sul do Recife. Apaixonado por cavalos de raça, em 1986 importou 26 éguas matrizes e três garanhões das melhores linhagens de salto, da criação de Westfalen – Alemanha. Desde então, dedicou a maior parte do seu tempo aos cavalos e ao aprimoramento genético da criação SL. Em 1996, com aproximadamente 200 animais, a criação foi transferida de Recife para a Fazenda de Criação, em Passira – PE, distante a 15 km do centro da nossa cidade, que se tornou um dos maiores criatórios do país, chegando a produzir 150 animais por ano. Era, originalmente, um Centro de Criação e Treinamento de Cavalos de Raça, que funcionou por muitos anos. Tinha uma área de 120 hectares, dos quais 50% eram áreas de preservação ambiental.
O seu chamado foi para falar do seu projeto de construir um cemitério no local. Perguntei porque não um projeto imobiliário. Disse que tinha feito estudos que esbarraram na dificuldade do acesso, provocada pela Avenida Caxangá, que já tinha na época um trânsito muito complicado. Seu sonho era construir um cemitério particular, algo de que nossa cidade tinha carência. Havia apenas o Cemitério de Santo Amaro, que já tinha se tornado pequeno. O Parque das Flores, construído para atrair o mercado de pessoas com maior poder aquisitivo não decolou, já tinha passado para a administração da Prefeitura. Não havia ainda um cemitério particular. A Morada da Paz, em Paulista, e o Memorial Guararapes, em Jaboatão dos Guararapes, foram abertos muito depois.
Visando seu projeto, foi várias vezes aos Estados Unidos, a fim de conhecer o funcionamento de cemitérios em várias cidades. Todos com uma característica diferente do Brasil, onde as famílias costumavam construir mausoléus deslumbrantes, como, por exemplo, no Cemitério de Santo Amaro. Lá, todos tinham apenas uma placa com os nomes, alguns com uma frase lembrando o morto. Encomendou um bonito projeto arquitetônico e começou a cuidar dos detalhes para começar a construção.
Sonhador, chegou a fechar uma apresentação do tenor Luciano Pavarotti, que teria como convidados os compradores de túmulos, quando do lançamento do projeto. E pensava em tudo: como o caixão conduzido por charretes importadas da Inglaterra, com cavalos pretos ou brancos. É bom lembrar que ele tinha uma grande criação de cavalos de raça.
Recordo de um momento curioso, quando visitava com ele a área, e chegamos a um local especial. Ele disse que ali os túmulos seriam mais caros, por terem uma visão de Boa Viagem. Brinquei: “e os mortos vão ver?” Ele disse: “os mortos não, mas os familiares, quando forem visitar o espaço, sim”. O projeto nunca foi aprovado pela prefeitura e a Coudelaria se tornou espaço de grandes eventos sociais, especialmente casamentos. Um deles foi badaladíssimo, o primeiro homoafetivo da cidade, de Zezinho e Turíbio Santos, realizado em baixo de uma bela árvore. O espaço fechou e os herdeiros de Roberto Souza Leão estudam nova destinação para a belíssima área.
Certo dia, Orismar Rodrigues, que tinha trabalhado 18 anos comigo e que era o colunista social do Jornal do Commercio, publicou uma nota contra o projeto, o que deixou Roberto irritadíssimo. Simplesmente, mandou metralhar a casa dele, em Piedade. Ele me telefonou logo cedo, apavorado. Conhecendo bem Roberto, peguei o carro e fui conversar com ele. Ele confessou que tinha mandado atirar, mas era apenas para dar um susto, não pretendia matar o jornalista e me prometeu que iria encerrar o assunto. Telefonei para Orismar, tranquilizando-o.
Assim era meu amigo Roberto Souza Leão, uma figura especial, que ficou marcado na história do Recife, principalmente pelo sonho não realizado de construir na capital pernambucana o cemitério mais bonito do Brasil.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1