A hora e a vez do salário emocional
Desde que assumimos a Presidência do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), passamos a adotar uma política de valorização pessoal
Encravado entre a China e a Índia, países mais populosos do planeta, o Butão é uma monarquia budista com cerca de 700 mil habitantes. Chamado também de Terra do Dragão, é um lugar isolado geograficamente porque fica numa região de difícil acesso, em plena Cordilheira do Himalaia. Sua capital, Thimphu (em português, pronuncia-se Timbu, o que é um bom sinal, vamos admitir), fica a quase 14 mil quilômetros do Recife.
A distância não nos impede, porém, de saber que foi o Butão o primeiro país do mundo a adotar o Índice de Felicidade Bruta, um indicador que, para eles, é tão relevante quanto o usual Produto Interno Bruto (PIB).
Uma das principais variáveis do indicador de felicidade é o chamado salário emocional, um conceito que leva em consideração ganhos não financeiros que um trabalhador recebe ou conquista durante o tempo que passa em uma instituição pública ou privada.
Desde que assumimos a Presidência do Tribunal de Justiça de Pernambuco, passamos a adotar uma política de valorização pessoal inspirada no exemplo butanês. Não se discute que a remuneração salarial é o principal motivo que nos faz sair de casa todos os dias em busca de uma vida digna a partir do trabalho. Mas à parte o salário, o que fica? Devemos buscar a satisfação. E é aqui que entra o salário emocional.
Diante das restrições legais, orçamentárias e operacionais comuns ao serviço público, por exemplo, nada mais apropriado do que valorizar nosso pessoal com benefícios indiretos, que vão além do ordenado mensal. Não se trata de mordomia ou de privilégio e sim do reconhecimento àqueles e àquelas que diariamente dedicam um tempo precioso de suas vidas para servir ao público.
Servidores e servidoras, magistrados e magistradas. Esse contingente de abnegado (a)s trabalhadore (a)s precisa ser permanentemente valorizado. Da sua atuação depende a qualidade do serviço prestado ao povo do nosso glorioso Estado de Pernambuco.
Com esse pensamento em mente, em pouco mais de oito meses de gestão, aprimoramos o bônus pago por desempenho jurisdicional, intensificamos as ações do plano de aposentadoria incentivada, promovemos campanhas que visam a preservar a saúde física e mental de todos e todas e aumentamos os programas de qualificação profissional.
Além disso, realizamos concurso de remoção para a magistratura e implantamos em todo o Tribunal a mentalidade da humanização. O teletrabalho, que leva em consideração a realidade de cada pessoa, sobretudo após a pandemia, também é uma realidade no Judiciário pernambucano, sem prejuízo da produtividade ou do atendimento presencial. Tem mais: no dia do aniversário, cada servidor (a) ou magistrado (a) pode ficar em casa, de folga, com seus amigos e familiares. Trata-se de um benefício já muito usado em empresas privadas.
Também estamos implantando a cultura da humanização. Pequenas atitudes, como zelar pelo ambiente de trabalho, não apenas aumentam a produtividade como também geram um sentimento de satisfação. Todo mundo gosta de trabalhar num local limpo, arejado e bem cuidado.
Todo esse conjunto de iniciativas, além de diversas outras assemelhadas, tem o propósito de criar em cada um (a) que faz o TJPE um sentimento de pertencimento. Não precisa ter a sabedoria de um monge budista do Himalaia para compreender que uma pessoa feliz e satisfeita não somente trabalhará mais e melhor como também irá, invariavelmente, compartilhar seu sentimento com todo (a)s à sua volta.
Ricardo Paes Barreto, presidente do TJPE