Qual é a relação entre Trump e a volta de Bolsonaro?
Friso também que Bolsonaro não voltará ao poder, a não ser que aconteça uma hecatombe econômica no governo Lula, com anistia do ex-presidente
As relações de causalidade precisam estar presente na análise política. Desde cedo, me debruço no ofício prazeroso de ler filosofia da ciência e literatura sobre metodologia para que meu aperfeiçoamento da interpretação das realidades política e social seja contínuo. Afirmo, de antemão, antes de findar este artigo, que o sucesso eleitoral de Donald Trump não contribui em nada para a volta de Jair Bolsonaro ao jogo político.
Existem duas boas recentes obras que possibilitam a minha afirmação. Inicialmente, peço licença a você para citar o meu último livro: Do bolsonarismo ao retorno do lulismo: Bolsonaro voltará ao poder? (Editora CRV, 2023). Nesta obra, mostro, previamente, pois ele foi escrito no calor dos acontecimentos, e nele estão presentes diversas previsões, as quais vieram a ser realidade, inclusive, as manifestações do dia 08/01/2023, que o então mandatário da República sempre desejou o caos e estressou o sistema político.
Friso também que Bolsonaro não voltará ao poder, a não ser que aconteça uma hecatombe econômica no governo Lula. Por consequência, as instituições seriam pressionadas a promoverem a anistia do ex-presidente da República. Como não está no meu cenário para 2026 a hecatombe, Bolsonaro não voltará ao poder. E mais: o ex-presidente da República não faz parte do sistema, isto é: as instituições não confiam nele. Não acreditam que ele seja capaz de negociar, cooperar, ceder espaços, e, acima de tudo, de se eleito presidente da República, não se vingar, por exemplo, do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.
Uma outra obra que antecipa a quase impossibilidade do retorno de Jair Bolsonaro é: Por que a democracia brasileira não morreu? (Editora Companhia das Letras, 2024). Os autores são os competentes cientistas políticos, Marcus André Melo e Carlos Pereira. Eles unem literatura e evidências para afirmar que a democracia brasileira sobreviveu perante o estresse promovido pelo presidente Jair Bolsonaro em virtude das instituições, em especial, o Poder Judiciário. Portanto, após a leitura de mais esta obra, afirmo: Bolsonaro não receberá anistia.
Destaco que novos atores estão presentes na dinâmica eleitoral brasileira e podem ser candidatos competitivos na vindoura eleição presidencial. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, é um deles. Porém, prevejo que Gilberto Kassab, presidente do PSD, e muito próximo ao governador, sugerirá a Tarcísio que seja candidato à reeleição, a não ser que aconteça a hecatombe econômica.
Ronaldo Caiado, governador de Goiás, será alternativa do União Brasil. Informações de políticos atentos ao dia a dia do partido revelam que Antônio Rueda, presidente da referida agremiação, tem compromisso com Caiado. Portanto, ele será candidato à presidente da República, independente da popularidade do governo Lula. Um outro candidato é Ratinho Júnior, governador do Paraná, e filiado ao PSD. Mas a sua candidatura depende de Gilberto Kassab e da hecatombe econômica. Observem, portanto, que a direita civilizada tem três possíveis candidatos, mas apenas um deve ser, qual seja: Ronaldo Caiado.
Tenho alertado que Pablo Marçal, caso não venha a perder os seus direitos políticos em razão da fake news contra Guilherme Boulos na recente eleição municipal, e consiga um partido político que lhe apoie, será um perigoso candidato a presidente da República. Mas, ressalto que Marçal precisa se afastar da direita radical e ser um candidato da direita civilizada.
Jair Bolsonaro perdeu espaço para variados atores políticos, os quais citei neste artigo. Sem cargo político e com concorrentes de peso, o ex-presidente da República está enfraquecido, mas não a tal ponto de ser desprezado, principalmente se ocorrer grave crise econômica – evento hoje imponderável. Isto não significa que Bolsonaro não terá influência na eleição de 2026. Terá sim, mas não como candidato, e sim, como cabo eleitoral.
Adriano Oliveira, Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa & Estratégia.