A direita brasileira é míope?
Diversos políticos antipetistas e antilulistas tomaram a decisão acertada quando escolheram Jair Bolsonaro como instrumento para enfraquecer o petismo
Todo aquele político que rejeita o PT e o presidente Lula é de direita. Dessa forma simplifico a minha definição da direita brasileira. Saliento também que não qualifico os partidos através do espectro ideológico em razão da existência do centrão no sistema político brasileiro. PSD, União Brasil e Republicanos participam do governo Lula. Portanto, não os tenho como de direita, mas como agremiações do centrão. Eles são líquidos, já que circulam por variados polos de poder.
Diversos políticos antipetistas e antilulistas tomaram a decisão acertada quando escolheram Jair Bolsonaro como instrumento para enfraquecer e derrotar o lulismo e o petismo durante e após a eleição presidencial de 2018. Todavia, após o amontoado de manifestações antidemocráticas realizadas pelo então presidente Jair Bolsonaro, recados foram dados à direita nacional. Contudo, vejo que ela é surda.
O bolsonarismo, apesar das ações das instituições, seguirá como fenômeno relevante na dinâmica eleitoral até, pelo menos, a eleição presidencial de 2026. Todavia, é extremamente remoto que Jair Bolsonaro dispute o vindouro pleito. Em razão disto, afirmo que a direita, conforme conceito apresentado no início deste artigo, está órfã. Sendo assim, faz-se necessário que a direita se pronuncie caso deseje vencer Lula e o PT em 2026 ou em 2030.
São variados políticos da direita que seguem sendo viúvas de Jair Bolsonaro. Consideram, equivocadamente, que sem o ex-presidente, a direita não tem força no Brasil. Tal raciocínio é equivocado, pois, em primeiro lugar, o bolsonarismo não é de direita. E, também, porque a saída de Jair Bolsonaro do jogo eleitoral oferta oportunidade a direita de apresentar um nome competitivo para enfrentar a esquerda.
Antes de Bolsonaro, existiam atores da direita democrática e civilizada. Lembro do PFL, que veio a ser definido como DEM. Apesar das críticas a esse partido, os seus integrantes não mostravam disposição para a promoção do golpe militar e de assassinar presidentes da República. Lembro bem que o DEM, partido não mais existente, sempre foi coerente: era antilulista e antipetista e os seus integrantes não faziam parte do centrão.
O advento de Bolsonaro em 2018 possibilitou o surgimento da direita incivilizada que tem disposição para agir contra a democracia e atentar contra a vida de atores relevantes da República. Portanto, não qualifiquem Jair Bolsonaro como representante da direita. Ele é líder da extrema direita brasileira, a qual é antidemocrática.
As ações das instituições contra Jair Bolsonaro ofertam grande oportunidade a direita civilizada e democrática.
Após o fim do inquérito da Polícia Federal (PF), a direita democrática deve se desvencilhar do bolsonarismo e se apresentar ao eleitorado como alternativa ao lulismo e ao PT. Contudo, não vejo disposição dos atores políticos da direita em condenar Jair Bolsonaro.
Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, apesar da oportunidade, segue sendo viúva de Bolsonaro. Ele defendeu o ex-presidente em razão do inquérito da PF. Ratinho Júnior, Romeu Zema e Ronaldo Caiado seguem em silêncio quanto às conclusões da PF. O único ator da direita que se pronunciou favoravelmente à democracia, até o instante, foi Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul.
O silêncio dos potenciais supostos líderes da direita sugere que eles não pertencem a direita democrática e civilizada. Mas eles também podem estar sendo míopes. Ou seja: Não conseguem construir previsões. Políticos bons são aqueles que enxergam o futuro rapidamente. E estou surpreso com os que ainda não entenderam que o inquérito da PF já mencionado é a grande oportunidade para o surgimento de uma liderança democrática de direita.
Adriano Oliveira, Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa & Estratégias