A Astur, o turismo e Goiana

Atualmente, sobretudo pós-pandemia, o turismo passou a ser prioritariamente os de curta distância, sendo primordialmente municipalista

Publicado em 25/11/2024 às 5:00
Google News

A Associação de Secretários de Turismo de Pernambuco (Astur) está na antessala dos seus 35 anos de existência e persistência. Vai realizar o seu terceiro encontro, no período de 27 a 29 deste mês, em Goiana.
A Astur, atualmente, é presidida por André Vasconcelos, secretário de Turismo de Triunfo. A entidade foi fundada em 20.04.1990, tendo como seu primeiro presidente o então secretário de Turismo do Recife, Edmundo Morais, que a fez nascer grandiloquente.

Na galeria dos ex-presidentes, além de Edmundo, estão nomes/renomes do turismo pernambucano, a exemplo de Samuel Oliveira, Pepe Cal, José Pereira Sousa, Albérico Pacheco, Sérgio Aroucha, André Quirino e outros.

O encontro terá por carro-chefe o turismo religioso (TR), assunto que, desde o ano passado, entrou na pauta do Brasil, notadamente entre os municípios ligados a equipamentos e símbolos no sentido amplo das crenças e da fé.

Neste temário, teremos como palestrantes o professor Elidomar Alcoforado e, da Empetur, Daniela Alecrim, ambos da Câmara Temática do TR de Pernambuco. Além destes – veja que maravilha! – Fabrício Luna e Pedro Brandão, respectivamente, secretário de Turismo de Pesqueira e de Arcoverde.

A atividade do turismo é primordialmente municipalista, sempre do global para o local. Atualmente, sobretudo pós-pandemia, o turismo passou a ser prioritariamente os de curta distância, dando relevo à prática de cada Estado, viajando mais dentro do seu próprio território.

Pernambuco sempre viajou dentro de si mesmo, além da demanda existente entre os destinos emissivos: a Paraíba, o Rio Grande do Norte e Alagoas, graças à proximidade destes Estados com o nosso.

A Astur nasceu sob o estímulo da promoção do intercâmbio entre as cidades associadas, criando o intercâmbio entre elas, além de ideias e motivações à conjugação de esforços.
Como sabido, compreende-se o turismo religioso como sendo uma atividade desenvolvida por pessoas que, por motivos religiosos, fé ou devoção, se deslocam para participar de eventos de relevância religiosa, a exemplo de romarias, peregrinações, reuniões, congressos, locais de cunho histórico-religioso, festas e espetáculos de caráter sagrado.

O Brasil é um país com uma diversidade religiosa enorme e os santuários e locais sagrados espalhados pelo país revelam o imenso potencial do turismo religioso.

De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a procura por viagens religiosas cresceu 61% no último decênio. Isso resulta num aquecimento da economia no segmento de viagens. Em 2019, só no Brasil foram 97,1 milhões de passageiros viajando sob a motivação de diversos nichos de turismo, dentre estes, o turismo religioso.

O turismo religioso existe desde os primórdios. Os registros das primeiras romarias brasileiras são de 1700, após a aparição da imagem da Virgem Maria, em Aparecida.

Paulo VI chamava os santuários de clínicas do espírito. Sente-se esse revigoramento nas visitas feitas aos santuários, aos chamados roteiros da fé, e assistindo aos roteiros dos espetáculos religiosos, estes adensados pela tríade do artístico, do cultural e do religioso.
Há santuários renovadores, a exemplo de Nossa Senhora Aparecida do Norte, o maior complexo mariano, hoje turistificado com 37 mil leitos, além dos diversos restaurantes, lojas, enfim, uma estrutura excelente à recepção dos turistas.

Mediante dados da Organização Mundial do Turismo, o turismo religioso movimenta, a cada ano, 340 milhões de pessoas em nosso globo.

Apesar dos números oficiais do Ministério do Turismo (MTur) serem bem menores, com certeza o Brasil responde por mais de 10% desse quantitativo. Para o MTur, as 20 milhões de viagens incentivadas pela fé provocam, no Brasil, a cada ano, um movimento de 4,4 bilhões de dólares.

E Goiana?

Goiana, cidade do litoral norte de Pernambuco, situada a 65 Km do Recife, tida, por sua rica e diversificada cultura, como a Milão do Nordeste, também conhecida por Terra dos Caboclinhos e, recentemente, por Terra dos Patrimônios Vivos de Pernambuco.

O centro histórico de Goiana encanta logo à primeira vista. Já na Av. Marechal Deodoro da Fonseca são muitos os atrativos, a começar pela Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Brancos (1568/1883). Ao longo da via, casas azulejadas, o prédio do Cineteatro Polytheama e o “Casarão das 7 Janelas”.

Da avenida, tem-se a visão do Conjunto Carmelita, formado pelo Convento de Santo Alberto da Sicília (1666) e sua Igreja de Nossa Senhora do Carmo, pela Igreja de Santa Teresa d'Ávila (1753), da Ordem Terceira do Carmo, e por um cruzeiro esculpido em pedra calcária (1719).

Ainda no Sítio Histórico, estão a Igreja de Nossa Senhora do Amparo dos Homens Pardos (1681), a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (1835), a Banda Curica, fundada em 1838, a mais antiga banda da América Latina, e a Sociedade Musical 12 de Outubro, onde é possível assistir aos ensaios da Banda Saboeira, fundada em 1849. As duas bandas receberam o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.

Imperdível deixar de conhecer o Museu de Arte Sacra Escritor Maximiano Campos e Galeria Mestre Zé do Carmo, instalados no prédio do Serviço Social do Comércio (Sesc Ler Goiana), com magníficas peças em exposição ou em processo de restauração, compondo um acervo de mais de 800 trabalhos, do século 16 ao contemporâneo.

A histórica Vila de Tejucupapo (onde, em 1646, o Engenho Megaó serviu de trincheira às corajosas mulheres que, munidas com armas domésticas, expulsaram a tropa holandesa que invadiu o povoado. O episódio ficou conhecido como a Batalha das Heroínas de Tejucupapo); sem esquecer a Povoação de São Lourenço (com antigo porto e a bela igreja votiva ao santo, que remonta a meados do século 16. Naquela povoação, em 10 de agosto, dia consagrado a São Lourenço, é realizada a Procissão do Carrego da Lenha, recentemente reconhecida pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC), como Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco.

Goiana, arte, cultura e fé!

Roberto Pereira foi secretário de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco e é membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.

Tags

Autor