Otávio Santana do Rêgo Barros: "Quem nos irrita, nos vence!"
Covey argumenta que, em vez de devolver grosserias com grosserias ou absorver comportamentos ruins, devemos agir conforme nossos princípios
Segundo uma pesquisa do Instituto Ipsos, realizada em outubro passado, 64% dos brasileiros não estão satisfeitos com o país e 53% acham que o ano foi ruim para suas famílias. É, este ano não foi nada fácil mesmo.
Apesar de estarmos vivendo o abençoado espírito natalino e recarregando as baterias físicas e emocionais coma energia da entrada de um novo ano, demoraremos a curar as cicatrizes que 2024 nos deixou.
Nas operações militares, existe um acrônimo que nos ajuda a lembrar as ações necessárias quando estamos desorientados em meio a uma mata densa, sob chuva torrencial e escassez de suprimentos, e, ainda assim, precisando seguir adiante para cumprir a missão: ESAON – Estacione, Sente-se, Alimente-se, Oriente-se e Navegue.
Esse conceito é igualmente aplicável à nossa vida pessoal, mesmo fora da caserna. Se fizer sentido para você, caro leitor, use-o como ferramenta em seu processo de tomada de decisão.
Estacionar significa parar. Evitar desgastes desnecessários. Não caminhar sem rumo. Ter bem definido o objetivo a ser alcançado.
Sentar-se é a oportunidade de descansar. Preservar energia para o que realmente importa. Refletir sobre o caminho percorrido e avaliar os aprendizados adquiridos.
Alimentar-se é renovar os ânimos. Reforçar o corpo e a alma. Reabastecer-se dos nutrientes contidos nos valores éticos e morais construídos ao longo da vida.
Orientar-se é reencontrar o rumo certo, aquele que nos conduz ao objetivo de bem servir. Ajuda a escolher novos caminhos quando o atual não oferece a saída esperada.
Navegar é decidir retomar a marcha, seguir em frente, com perseverança e lucidez, mesmo diante dos desafios que ainda estão por vir.
No seu ESAON diário, lembre-se também da história do jornaleiro mal-humorado e do cliente paciente:
Um homem comprava jornais todos os dias na cinquentenária banca, localizada na esquina de sua rua. Apesar de sempre ser educado, calmo e cordial, o jornaleiro, conhecido por seu mau humor e irascibilidade, frequentemente respondia de forma ríspida ou simplesmente ignorava o cliente.
Certo dia, um velho amigo o acompanhou nesse passeio e presenciou essa cena. Surpreso com a atitude do jornaleiro e com a serenidade do amigo, perguntou:
— Por que você continua sendo tão educado com esse sujeito, mesmo quando ele o trata tão mal?
O homem sorriu e respondeu calmamente:
— Porque não quero que a pobreza de sua alma, tão pouco o seu mau comportamento determinem meu modo de agir e pensar.
Essa história é frequentemente atribuída a Stephen Covey, autor do livro Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes (Editora Best Seller, 2004), como parte de suas palestras motivacionais para líderes de grandes empresas e pessoas interessadas em transformar suas vidas.
Ela é usada para ilustrar princípios éticos e morais essenciais, exigidos tanto de quem lidera quanto de quem desempenha seu papel como membro de um grupo familiar, de amigos ou de trabalho.
No contexto do livro, o exemplo do jornaleiro mal-humorado enfatiza a importância de ser proativo e de não reagir negativamente às atitudes alheias.
Covey argumenta que, em vez de devolver grosserias com grosserias ou absorver comportamentos ruins, devemos agir conforme nossos princípios, mantendo a compostura e escolhendo serenamente nossas respostas. Afinal, quem nos irrita nos vence.
Às pessoas que agem como o jornaleiro, desejo profundamente que encontrem paz de espírito para buscar, na renovação interior, um novo significado para suas vidas.
Às pessoas que agem como o cliente, rogo que continuem firmes no propósito de tornar o mundo um lugar melhor para todos. Não se deixem irritar.
Feliz e abençoado Ano Novo!
Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva do Exército Brasileiro