Roberto Pereira: "Golpes digitais atingem 24% dos brasileiros"

São em torno de 24% alcançados pelos crimes cibernéticos, mais de 40 milhões de pessoas que perderam dinheiro em função de algum crime cibernético

Publicado em 28/12/2024 às 18:11
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O título deste artigo é pouco atraente ao leitor, mas o assunto precisa ser abordado por repetidas vezes. Segundo a Agência Senado, são em torno de 24% alcançados pelos crimes cibernéticos, mais de 40 milhões de pessoas que perderam dinheiro em função de algum crime cibernético, como clonagem de cartão, fraude na internet ou invasão de contas bancárias. Os dados são de uma pesquisa que remonta a outubro deste ano.

No período de julho de 2022 a julho de 2023, o total de brasileiros vitimados por esses ataques foi de 7 milhões. Veja-se o crescimento desse quantitativo em apenas um ano.

Estou, lamentavelmente, desde 2023, entre as vítimas desses ataques. Um que se processou em um empréstimo, à minha revelia e às caladas da noite, de um valor bem superior ao saldo de que dispunha na data, impondo-me uma prestação de quase R$ 3.000,00, pagas, as três primeiras. Este, o banco, numa posição de muita dignidade, devolveu-me, com juros e demais correções.

O outro, ainda judicializado, que vem descontado na minha aposentadoria, no valor de R$ 500,00, ainda está à mercê da decisão judicial, impondo à minha pessoa apresentação de documentos relativos à prova do crime, facilmente realizado, todavia, pelos pilantras que encontraram total facilidade ao exercício do golpe.

Também tive, em 2022, o meu celular clonado, causando-me um aperreio incrível. O autor fazia ligações a torto e a direito, tentando golpear amigos dos diversos grupos sociais aos quais pertenço.

Foram muitas as ligações de confirmação da chantagem do trapaceiro, de pessoas do meu rol de amizade, tentando atender à solicitação do chantagista que falava em meu nome, através de palavras digitadas.

Desfazer todo esse imbróglio foi estafante e estressante para mim diante de tantas ligações, pedindo confirmação ser eu o autor ou não de convites que objetivavam lograr vantagens, como frutos desse golpe.

Um lembrete necessário: a vítima deve fazer o Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia do Crime Virtual, podendo registrá-lo pela internet, todavia, não espere daquela entidade diligências que possam levar ao autor do crime, tampouco ao ressarcimento do prejuízo financeiro, caso tenha havido. Não há um preparo tecnológico competente à causa.

Uma prática muito usual está exatamente nos empréstimos consignados, que pega, predominantemente, os aposentados e pensionistas do INSS.

Por mais que os meios de comunicação avisem dos malefícios desse modelo ardil, a inocência de muitos dos idosos, a maioria formada por pessoas tecnologicamente ingênuas e crédulas, que caem na esparrela da primeira conversa. E os autores dos crimes? São beneficiados pela impunidade, sobretudo pela limitação tecnológica das delegacias especializadas. Uma lástima!

O Dr. Thiago Gusmão, advogado especializado em Direito do Contribuinte, em recente entrevista numa emissora de televisão, dá como conselhos à prevenção do roubo o fato de que a pessoa, sob o risco de assalto, deve se pautar pela desconfiança, fazendo consulta à sua instituição financeira sobre a veracidade da narrativa do chantagista.

Que tem sido – continua o Dr. Thiago – habitual ao autor do golpe, pousar de agente financeiro, prometer vantagens, sob o manto de uma empresa criada por ele, falsa, mas com nomes que terminam em “cred” para induzir credibilidade. A quem já tem algum empréstimo, promete reduzir a prestação, mantendo a quantidade dessas mensalidades.

Desconfie, leitor amigo, das vantagens muito atraentes, mas que normalmente são falsas, apenas servem de adorno para o golpe que se supõe certeiro aos olhos do golpista.

Lembro que existe, como sabido, o Meu INSS onde se entra com o CPF e a senha do GOV para se tentar desvendar mistérios dos chantagistas.

O que vem facilitando, em demasia, essa prática dos empréstimos consignados, é fruto da epidemia da Covid-19, quando os contratos bancários deixaram de ser presenciais com assinaturas físicas e passaram a ser contratos eletrônicos e virtuais, bastando apenas a apresentação de um self, de cópia de um documento e de um clique num link, estabelecendo-se, assim, o pacto entre as partes.

É o caso de repetir o que já se tornou jargão: não existe almoço grátis nem mesmo na internet.

Roberto Pereira foi secretário de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco e é membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.

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