Os efeitos do sistema educacional na saúde mental dos alunos
.....A educação deve ir além das notas, equipando indivíduos com habilidades, resiliência e curiosidade para prosperar no mundo......
Nas últimas décadas, estudantes de todo o mundo vem enfrentando um desafio invisível: um sistema educacional que prioriza notas em detrimento do bem-estar. Criado para medir o progresso acadêmico, o modelo atual tem gerado pressão e estresse constantes, levando ao declínio da saúde mental e desestimulando o prazer de aprender. É urgente repensar o sistema de avaliação e incorporar mudanças que priorizem o equilíbrio emocional dos alunos.
O foco em provas padronizadas e competição excessiva frequentemente produz o oposto do aprendizado genuíno. Estudos apontam um aumento na ansiedade, depressão e esgotamento, com a pressão acadêmica como um dos principais gatilhos. As notas muitas vezes se tornam sinônimo de valor pessoal, fomentando o perfeccionismo e o estresse crônico. Em vez de estimular criatividade e curiosidade, o sistema atual premia a memorização e pune erros, transformando as salas de aula em arenas de competição.
Apesar da crescente conscientização, mudar essa dinâmica não é simples. Segundo a Harvard Graduate School of Education (EUA), "há uma motivação extrínseca ligada às notas, o que aumenta o estresse dos alunos e pode levar a perfeccionismo, ansiedade e desmotivação." A escala de letras ou números frequentemente falha em refletir com precisão o aprendizado. Por exemplo, um trabalho entregue com atraso pode receber uma nota inferior a outro de menor qualidade, mas pontual, distorcendo o verdadeiro domínio do conteúdo.
As provas padronizadas, a exemplo do ENEM e do SSA, são outro fator de grande impacto. Muitos alunos vêem esses exames como determinantes não apenas para seu futuro acadêmico, mas também para sua autoestima. Essa pressão gera noites sem sono, crises de ansiedade e um esgotamento que persiste para além da formatura. Pesquisas neurocientíficas indicam que o estresse relacionado a testes prejudica a capacidade cerebral de recuperar informações, resultando em desempenhos inferiores, mesmo quando o aluno está preparado.
Além disso, o tempo dedicado à preparação para testes reduz as oportunidades de abordar o bem-estar emocional e as conexões interpessoais. Conforme observado pela pesquisadora paquistanesa Iqra Ashraf (Government College University Faisalabad), "testes de alto risco estão correlacionados com níveis elevados de ansiedade, especialmente entre jovens estudantes, muitas vezes incapazes de lidar com tamanha pressão."
Apesar das críticas ao sistema atual, há quem defenda sua manutenção, apontando a objetividade das notas na identificação de dificuldades e na oferta de feedback direcionado. A Point Loma Nazarene University (EUA) argumenta que o formato tradicional de avaliação facilita a compreensão universal do desempenho acadêmico.
Ainda assim, priorizar a saúde mental não significa comprometer o rigor acadêmico. Pelo contrário, alunos que se sentem apoiados tendem a obter melhores resultados. Como afirma o cientista Imed Bouchrika ( National Higher School of Artificial Intelligence, Algeria), "a educação deve preparar os jovens para enfrentar o mundo adulto, tanto em termos profissionais quanto éticos." Uma abordagem equilibrada, que promova bem-estar academico e emocional, é não apenas possível, mas necessária.
A educação deve ir além das notas, equipando indivíduos com habilidades, resiliência e curiosidade para prosperar no mundo. Diante do impacto devastador do sistema atual, a pergunta não é se devemos mudar, mas com tanta urgência isso deve ser feito. Um sistema educacional que valorize a humanidade tanto quanto o desempenho é essencial. Nossos estudantes merecem nada menos.
Julia Vasconcelos Cabral , estudante brasileira de engenharia biomédica da Universidade de Syracuse, EUA.