Clima e Pulmão: Os impactos do aquecimento global e da poluição na saúde respiratória

Vale destacar que os efeitos do calor não são apenas físicos. O estresse mental provocado pelas altas temperaturas contribui para a queda da imunidade

Publicado em 02/01/2025 às 0:00
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A crise climática e o aumento da poluição ambiental são uma realidade inegável, trazendo impactos diretos e negativos para a saúde humana, especialmente no que diz respeito ao sistema respiratório. A combinação entre temperaturas extremas e poluentes atmosféricos desafia o funcionamento dos pulmões e agrava doenças respiratórias já existentes, como a asma e a bronquite, além de contribuir para o aumento das infecções respiratórias. O cenário exige uma reflexão urgente sobre o futuro do nosso meio ambiente e, consequentemente, da nossa qualidade de vida.

O aumento das temperaturas, típico das ondas de calor intensificadas pelo aquecimento global, afeta diretamente as vias aéreas. A exposição prolongada a temperaturas extremas causa alterações na barreira epitelial que reveste o sistema respiratório, violando proteínas estruturais e desencadeando processos inflamatórios e hiper-reativos, uma espécie de “alergia” do organismo ao estresse térmico. Além disso, o calor excessivo aumenta a frequência respiratória e o volume de ar inspirado, sobrecarregando o sistema termorregulador do corpo e provocando constrição dos brônquios, ou seja, um aperto que dificulta a passagem do ar.

Sob estresse térmico, nosso organismo também ativa as chamadas proteínas de choque térmico, que agravam a disfunção da barreira epitelial e promovem inflamações nas vias aéreas. A consequência é um aumento significativo do estresse oxidativo, um processo que compromete as defesas naturais do sistema imunológico pulmonar. Associado a isso, ocorre a redução da atividade mucociliar, responsável por limpar as vias respiratórias, o que torna os pulmões ainda mais vulneráveis a infecções.

A situação se agrava com a presença de poluentes no ar. Durante períodos de calor extremo, queimadas e maior circulação de veículos, o material particulado fino, o ozônio e outros poluentes atmosféricos aumentam drasticamente, tornando o ar das cidades uma ameaça constante. Esse ambiente poluído potencializa os sintomas respiratórios, como tosse, falta de ar e exacerbação de doenças como a asma. Os riscos de infecções respiratórias também crescem, muitas vezes com maior gravidade e necessidade de intervenções médicas.

Vale destacar que os efeitos do calor não são apenas físicos. O estresse mental provocado pelas altas temperaturas contribui para a queda da imunidade, tornando o organismo ainda mais suscetível a doenças. Esse fator psicoemocional, muitas vezes negligenciado, precisa ser considerado como parte do quadro geral de saúde da população.

Outro desafio é a prática de exercícios físicos em meio a um cenário de calor extremo e poluição, especialmente em regiões como o Nordeste brasileiro. É inegável que a atividade física é fundamental para a saúde mental e corporal, mas como compatibilizá-la com as adversidades climáticas e urbanas? As caminhadas ao ar livre, benéficas e acessíveis, tornam-se impraticáveis em centros urbanos sufocados pelo trânsito, poluição e insegurança pública. Isso leva muitas pessoas a buscar academias de ginástica, onde, embora protegidas do clima, são expostas a ambientes fechados, com circulação de ar limitada e maior risco de contaminação por microrganismos devido à aglomeração.

Portanto, o cenário é preocupante e nos convoca a agir sem demora. A relação entre o meio ambiente e a saúde humana é inseparável, e a degradação ambiental já mostra suas consequências de forma clara e dolorosa. Precisamos repensar nossas práticas e políticas públicas para reduzir os impactos do aquecimento global e da poluição. A busca por soluções sustentáveis, como a expansão de áreas verdes, o incentivo a fontes de energia limpa e a redução de emissões de poluentes, é urgente.

Para o bem da nossa saúde, em especial da saúde pulmonar, devemos entender que proteger o meio ambiente significa proteger a nós mesmos. Ignorar essa realidade pode custar muito mais do que imaginamos. É hora de agir.

Dr. Murilo Guimarães, pneumologista

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