Democracia e pluralismo
Os fatos históricos e atuais comprovam que a polarização afeta não apenas os sistemas políticos, mas também nossas interações diárias.
O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama com a sua esposa, Michele, criaram a Fundação Obama, um Centro Global para mudanças, com a missão de inspirar, capacitar e conectar pessoas para transformar seu mundo. Objetivam construir uma cultura democrática ativa, onde as pessoas estejam preparadas e motivadas para promover mudanças, não apenas nas urnas ou nos corredores do poder, mas também em suas comunidades, nos lugares onde vivem, trabalham e se divertem. Eles acreditam que somente acontece mudança quando pessoas comuns se envolvem, engajam e se unem.
A visão é global. Capacitar líderes emergentes a participar de forma mais significativa, conectando-os com habilidades, recursos e redes para maximizar seu potencial e transformar seu impacto local em global. Oferecer oportunidades essenciais para jovens, por meio de educação, mentoria e desenvolvimento de carreira, independentemente de suas origens.
Com esse espírito, Obama Foundation's 2024 Democracy Forum foi sobre democracia e pluralismo. Berto Aguayo, fundador da organização Increase the Peace, iniciou o evento narrando a sua história de desafios e definiu que Pluralismo ocorre quando pessoas de diferentes origens se unem para colaborar umas com outras, tornando possível a história de cada uma. Essa é a história da democracia dos EUA, cuja Constituição começa com a Comunidade "Nós, o Povo". Berto complementa que essas palavras não apenas afirmam quem somos, mas implicam em responsabilidade cívica de construir uma comunidade respeitando as diferenças.
Barack Obama enfatizou que o momento atual é muito oportuno para se dialogar sobre democracia, quando os seus princípios básicos estão sob ataque e muitas pessoas no mundo tornaram-se cínicas e descomprometidas com o processo democrático. Ele argumenta que uma democracia saudável depende do que os cientistas políticos se referem como pluralismo. Complementando o que Berto Aguaya definiu, ele afirma que em numa democracia todos devem encontrar meios de interagir com pessoas e grupos que sejam diferentes, comprometendo-se com regras e hábitos de um sistema que ajude a resolver conflitos pacificamente. Não apenas tolerar diferenças, mas agir coletivamente para a solução dos desafios e problemas. Admite que é difícil, mas deve ser o objetivo de uma sociedade virtuosa, contando, fundamentalmente, com a independência dos poderes executivo, legislativo e, essencialmente, o judiciário.
Para demonstrar o enorme desafio que essa prática representa, narrou casos históricos sobre a complexidade da sociedade americana e de outras nações. Entretanto, está convencido que se queremos que a democracia funcione como deve ser, devemos ser comprometidos com os princípios do pluralismo, construindo pontes. Isso compreende, encontrar meios de, nas negociações, adicionar valor e não subtrair. E ainda, se empenhar em criar possiblidade de soluções ganha-ganha. É necessário estar aberto a escutar, compreender e aprender com outras práticas e experiências locais e globais. No entanto, podem ocorrer casos que a outra parte joga fora das regras, abusa do poder. Nesses casos, redobra-se a busca por aliados, pelo judiciário se for necessário, mas sempre com clareza e fidelidade aos seus valores e princípios básicos. Exemplos de Martin Luther King, Gandhi, Nelson Mandela e outros líderes locais e globais devem ser seguidos.
Obama acredita que os princípios do pluralismo precisam acontecer prioritariamente nas comunidades e nas escolas onde as crianças e jovens se envolvem em atividades colaborativas, desenvolvendo habilidades de comunicação, criatividade, pensamento crítico e aprendendo a negociar.
Para praticar o Pluralismo, a Fundação Obama desenvolveu um conjunto de ideias, abordagens, estratégias, cursos baseados na sua rede de liderança ao redor do mundo. Recomenda numa primeira etapa compreender os valores, baseados na Teoria de Schwartz, que provoca questionamentos: Por que os valores são importantes para enfrentar problemas sociais e ambientais complexos? É possível identificar valores pessoais que sejam robustos em diferentes culturas? Esses valores podem ajudar a explicar os conflitos de valores? Em seguida, entender como a cultura molda nosso senso de pertencimento e fomenta conexões significativas. Filmes, esportes, teatro, livros são recomendados.
Vários recursos estão disponíveis no website da Fundação - obama.org. O Hope to Action Values Framework destaca valores que dão vida ao pluralismo. A Civic Nation compartilha seu currículo Change Collective para explorar como a polarização crescente afeta relacionamentos e democracia em vários contextos. A plataforma é uma abordagem para unir pessoas, superar divergências e resolver problemas, construindo uma comunidade de agentes de mudança.
Está também disponível um livro de atividades Making Progress in Polarized Times para explorar a estrutura de valores adicionais, refletir sobre o papel do cidadão no mundo polarizado e obter ferramentas práticas para progredir. Com o Bridgebuilder Basics aprende-se sobre habilidades para superar diferenças e promover ações para o bem comum.
Os fatos históricos e atuais comprovam que a polarização afeta não apenas os sistemas políticos, mas também nossas interações diárias. Embora possam ser criadas paixões em torno de questões importantes, devemos combater os impactos negativos e encontrar formas de construir pontes, respeitar diferenças e buscar objetivos comuns. Essa é a essência do pluralismo e do trabalho da Fundação Obama.
Eduardo Carvalho, Autor do livro Global Changemaker