Roberto Pereira: O turismo do Brasil em números
Mesmo com alta de 12,6% no fluxo de turistas estrangeiros no Brasil em 2024, ainda estamos patinando na casa dos 6 milhões de turistas/ano

O Governo brasileiro vem entoando loas e boas em face dos números auferidos ao fluxo turístico do nosso país, no ano de 2024. Acompanho também esse canto mais pelos ritmos do otimismo do que pelos acordes da realidade.
O grito retumbante exalta a marca do encerramento de 2024 com pouco mais de 6,65 milhões de turistas estrangeiros, alta de 12,6% com relação ao ano anterior.
Alvíssaras, meu Brasil!
Todavia – todavia! – importante dizer que essa marca, embora a maior de toda a série histórica, ainda nos deixa patinando na casa dos 6 milhões de turistas/ano, coeficiente que somente faz aumentar o estigma que pesa sobre o nosso turismo.
Temos a síndrome dos 6 milhões!
No prefácio do livro “2030. Metas para os eventos e o turismo,” à página 3, o seu editor, presidente da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt), Sérgio Junqueira, traz a lume estudo recente (ano de 2022) do professor Alexandre Panosso Netto, um dos patronos da Abevt, quando ele diz:
“A investigação observa que, mesmo durante o boom do turismo internacional na década passada, o Brasil estacionou em pouco mais de 6 milhões de visitantes estrangeiros por ano. Nesse período, o país ainda teve a rara oportunidade de sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada no espaço de dois anos, mas o crescimento entre 2014 e 2019 foi ínfimo: uma alta ligeira (que também pode ser vista como estagnação) de 6,31 milhões para 6,35 milhões.”
Faço aqui apenas um registro do quanto a demanda turística para o nosso país patina na casa dos 6 milhões, à falta de uma ação competente e eficaz que possa levar aos olhos do mundo a sensação, dentre os países de maior demanda para nós, uma maior cobiça pelos produtos brasileiros que, mais do que bem embrulhados, precisam oferecer produtos condizentes com as nossas belezas e encantos.
Uma palavra mágica pode mudar o rumo do nosso turismo: planejamento. Um repensar porque continua valendo a máxima: não se chega a resultados diferentes, usando-se as mesmas estratégias.
Os números exatos, dos 6.657.377 turistas chegados ao nosso país, no ano de 2024, segundo o Ministério do Turismo (MTur), foram dos “hermanos”, que continuam liderando o volume de visitantes internacionais à demanda do Brasil, sendo 1.953.548 argentinos desembarcados no país em 2024. Os Estados Unidos ocupam a segunda posição, tendo enviado 696.512 turistas. Os chilenos vêm logo atrás, com 651.776 chegados aos destinos brasileiros. Já os vizinhos, Paraguai e Uruguai, juntos, somaram mais de 833.412 visitantes.
Até novembro de 2024, o valor gasto pelos turistas estrangeiros no país somou US$ 6,62 bilhões, a maior cifra registrada nos 11 primeiros meses do ano, cotejados desde o período iniciado em 1995. O número é 5,3% superior ao verificado no mesmo período de 2023 (US$ 6,29 bilhões) e ultrapassa, inclusive, o valor de igual período em 2014 (US$ 6,30 bilhões), quando o país sediou a Copa do Mundo de Futebol.
Sabe-se que o crescimento do número de visitantes internacionais é uma das principais metas do Plano Nacional de Turismo (PNT) 2024-2027, que tem como objetivo consolidar o Brasil como o principal destino turístico da América do Sul, tudo em nome, conforme está no PNT, da superação da marca de 8,1 milhões de turistas estrangeiros por ano, gerando mais de US$ 8,4 bilhões em receitas e fortalecendo ainda mais a economia nacional.
Encômio ao MTur que tem trabalhado em diferentes frentes. Em dezembro de 2023, foi inaugurado no Rio de Janeiro o primeiro Escritório da Organização Mundial do Turismo (OMT), nas Américas e no Caribe. Uma ação meritória envolve a divulgação da “Marca Brasil”, importante iniciativa para reconstruir a imagem do país no exterior — que continua devidamente compromissado com a sustentabilidade, a diversidade e a inclusão no setor turístico.
O Brasil também lançou a marca “Visit South America: um lugar, vários mundos”. A estratégia é uma parceria do Governo brasileiro com Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile para, de forma integrada, promover e posicionar internacionalmente os destinos desses países, com foco em atrativos naturais, gastronômicos e de hospitalidade.
Para 2025, o Governo Federal anunciou que os novos editais regionalizados do Programa de Aceleração do Turismo Internacional (Pati) têm previsão de R$ 63,6 milhões em investimentos para a atração de novos voos em rotas nacionais. A expectativa é de que sejam ofertados ao menos 500 mil novos assentos no período de um ano.
Esse número já impacta o recorde de assentos de voos nacionais para a temporada de verão 2024/2025: serão 7,48 milhões, um crescimento de 19% em comparação ao verão de 2023/2024.
Além disso, no próximo ano, o Brasil receberá importantes eventos, como a Conferência do Clima da ONU, a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, e a reunião do BRICS, em Brasília, que devem atrair milhares de visitantes internacionais para o país.
Saliente-se a importância socioeconômica do turismo, haja vista uma estada média de 13 dias, gerando o gasto médio, por exemplo, do turista internacional, que é de US$ 1.200, incluindo-se hospedagem, alimentação, transporte, passeios e compras.
E ainda: a cada dólar investido nas promoções, o retorno médio é de US$ 10, em recente estudo realizado pelo MTur, além do que anunciou, recentemente, a Organização Mundial do Turismo (OMT), que exibiu o dado de que 80% das viagens internacionais acontecem em trechos de curta distância, com até 5 horas de duração, deixando os 20% de voo de longa distância sob o desafio de uma maior promoção, de uma oferta maior no destino, neste caso específico, do nosso Brasil.
O turismo no Brasil vai bem, mas podia estar melhor, restando-nos apostar num futuro mais promissor.
Acreditemos!
Roberto Pereira foi secretário de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco e é membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.