Arthur Carvalho: O Papai da Cidade
Nosso diretor de esporte era o dedicado e querido Murilo Teixeira, funcionário graduado do Banco do Brasil que nos dava mal exemplo fumando...

Como não posso passar das 40 linhas, deixei de citar pessoas que integraram os times campeões invictos do juvenil do Sport em 54/55. Seu técnico por exemplo era o limoeirense Arlindo Bezerra de Assis, o saudoso e estimado Capuano. Ele não complicava, talvez por isso foi um treinador vitorioso.
O sonho de todo rapaz recifense era jogar no juvenil do Sport. Assim, sempre que chegava um menino e treinava bem, com pinta de craque, Capuano levava no mesmo dia pra Rua Dom Bosco e inscrevia no Sport.
Ao contrário do que muitos pensam, nossos grandes adversários não eram Náutico e Santa Cruz e sim o América, cujo time treinava diariamente no campinho de Bebinho Salgado, defronte da casa do sociólogo de Apipucos, de excelente gramado, no bairro do mesmo nome, capitaneado por Jurandir, craque da pelota, como diria o genial cronista esportivo e cineasta Jota Soares, de saudosa memória.
Com isso, o sabido Capuano, muito amigo de Pedro Chabloz, meio campista rubro negro de 1953, tinha sempre 3 times.
Nosso diretor de esporte era o dedicado e querido Murilo Teixeira, funcionário graduado do Banco do Brasil que nos dava mal exemplo fumando 4 maços de Hollywood, ponta de cortiça, por dia. Ele dirigia nossos times que excursionavam pelo interior do Nordeste e pagava o bicho da vitória com dinheiro de seu bolso.
Naquele tempo treinava-se também em jejum, pela manhã. Depois do treino tomávamos café, uma chocolatada patrocinada por Murilo. Conforme a véspera, alguns jogadores metiam o dedo na garganta para vomitar antes de treinar.
Nosso massagista era o grande Mathias, o mesmo dos profissionais, que formavam a trinca dos três maiores massagistas do Brasil, junto com Johnson, criolo de um metro e noventa do Vasco, e Mário Américo, campeão de boxe da Portuguesa de Desportes de São Paulo.
Roupeiro, Chico, também baiano e pai de santo. Veio de Salvador para Pernambuco como guia de cego. Quando jogadores do Naútico, Santa Cruz e América não curavam suas contusões nos seus departamentos médicos, apelavam para Mathias que os curava.
Suas mãos de veludo eram mágicas. Íamos jogar e ganhar acompanhados de nossos pais e namoradas. Tempo bom! Sem cartolas profissionais e torcidas organizadas. O Papai da Cidade. Pelo Sport tudo!
Arthur Carvalho, sócio Patrimonial do Sport Club do Recife