Flávio Brayner: Habemus Chevalier
Perguntei ao meu amigo Moacyr - o primeiro Chevalier pernambucano de que tenho notícia- qual a trajetória que o levou até esse grau de "nobreza"

O professor do Departamento de Oceanografia da UFPE e Vice Reitor da nossa Universidade, Moacyr Araújo, acaba de receber a altíssima comenda das mãos do Presidente da França, Emmanuel Macron (47 anos), de CHEVALIER DE L’ORDRE DU MÉRITE SCIENTIFIQUE DE LA RÉPUBLIQUE FRANÇAISE! Fundada por Napoleão, em 1802, a “Légion d’ Honneur” (que envolve os graus de CHEVALIER – a mais alta!-, OFFICIER e COMMANDEUR), é a mais elevada distinção nacional francesa, como recompensa “por méritos eminentes ao serviço da Nação a título civil ou sob armas”.
Perguntei ao meu amigo Moacyr - o primeiro Chevalier pernambucano de que tenho notícia- qual a trajetória que o levou até esse grau de “nobreza” simbólica. Ele me mandou uma cartinha, que reproduzo abaixo:
“(...) Na adolescência, uma viagem prolongada à Europa com mochila nas costas permitiu abrir a mente a vários países, mas por alguma razão em nenhum deles eu me sentia tão em casa como na França... sentado num Café, tomando um café ou um “pichet de rouge”.
Mas acho que a conexão concreta com a França aconteceu mesmo a partir do período em que passamos em Toulouse, eu e Clara, ambos fazendo o Doutorado. No meu caso, no “Institut de Mécaniques de Fluides de Toulouse”, trabalhando com turbulência oceânica teórica e numérica, na busca pela universalização das leis físicas que pudessem, jovem pretencioso que era na época, explicar parte da similaridade entre a natureza externa e a natureza humana.
A primeira em sua exuberância e ciente de sua efemeridade, contrastante com a segunda, eternamente atordoada pela temporalidade se sua existência. Após o final do Doutorado, em 1996, ainda ficamos quase dois anos na França, trabalhando em Projetos do CNRS. Toulouse também nos deu Julia, nossa segunda filha, que deu seus primeiros passos naquela “Ville Rose”, como Toulouse é conhecida.
Depois do Doutorado, concurso na UFPE e entrada no Depto. de Oceanografia. De lá para cá, são quase de 30 anos de cooperação acadêmica e científica com diferentes grupos de pesquisa e colegas franceses, em Paris, Toulouse, Montpellier, Marseille, etc...
Colegas que hoje são grandes amigos e amigas, com quem igualmente dividi experiências e aventuras em embarques científicos, tanto em navios brasileiros como franceses, vivendo em alguns momentos, a prática estudada na teoria do Doutorado, o confronto entre as naturezas turbulentas do oceano e do ser humano, a última, mero coadjuvante da primeira.
Durante estes anos de cooperação fui convidado e participei de vários comitês e comissões nacionais francesas como expert externo/internacional, por exemplo o “Committee Stratégique d' Orientation Scientifique de la Flotte Océanique Française (COSS-Flotte)”, a “Commission Régionale d´Experts Économiques et Scientifiques de l´Agence Universitaire de la Francophonie (CREES-AUF)”, entre outras, que faço parte até hoje.
Como estratégia geopolítica, ao longo destes anos de relação com a França, acredito ter contribuído significativamente para o estabelecimento de um tripé acadêmico-científico envolvendo França-Brasil-África em Ciências do Mar, com foco no fortalecimento das relações Sul-Sul. Foram muitos acordos de cooperação assinados entre diferentes instituições do Brasil e do continente africano.
Tudo isso, confesso, em muito influenciado pelas leituras de Aimé Césaire. Nesse conjunto de iniciativas, participo há cerca de 10 anos de uma Cátedra da Unesco (International Chair in Mathematics Physiscs and Applications) organizada por colegas do IRD. Todos os anos dou as aulas de Turbulência Geofísica neste Mestrado em Cotonou, Benin, para alunos africanos do Benin, Togo, Camarões, Costa do Marfim, Nigéria, Marrocos, entre outros.
Após finalizarem o Mestrado em Cotonou, muitos destes jovens pesquisadores vão fazer seus Doutorados no Canadá, França, Alemanha, Estados Unidos, Brasil.... Assim, tenho recebido ao longo dos 10 últimos anos cerca de uma dezena de alunos destes diferentes países, que vêm fazer o Doutorado comigo na UFPE. Alunos brilhantes.
Enfim, meu amigo, estas são algumas das razões, imagino eu, de ter sido contemplado com a comenda de “Chevalier de l´Ordre National du Mérite de la Republique Française”.
Só falta achar um cavalo!”(...).
Eu acho, Moacyr, que com o escudo, a espada, o elmo, a armadura e o cavalo espero que você defenda nossas Universidades dos ataques dos bárbaros, que estão à porta de nosso Império acadêmico!
Parabéns a você, parabéns a UFPE por esta superlativa Comenda que nos honra a todos.
Flávio Brayner bem que gostaria de ser Pajem de Cavaleiro!