Editorial

Custo Pernambuco

Publicado em 26/11/2020 às 2:00
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A instalação de um polo automotivo na Mata Norte representou um ganho de diversidade para a economia de Pernambuco. Mas a deficiência persistente na infraestrutura, sobretudo em relação ao gargalo da mobilidade, tem provocado duas consequências interligadas: há um nítido atraso nos benefícios que o polo poderia gerar para os pernambucanos, enquanto crescem os investimentos e a aglomeração da cadeia produtiva do outro lado da fronteira. A Paraíba está muito perto, oferecendo melhores estradas e uma atratividade que chama inclusive empresários de Pernambuco, como o JC mostrou em reportagem publicada na edição de ontem.

A ampliação de um condomínio logístico no município de Conde, em território paraibano, é sintomática da letargia que põe o nosso estado para trás. A constatação de que Pernambuco parou no tempo é, infelizmente, comentário geral entre o empresariado de diversos setores. O grupo de 33 investidores irá alocar R$ 55 milhões na expansão em Conde, por causa da falta de rumo diante da paralisia em torno do polo automotivo. A competitividade paraibana se torna um diferencial sem concorrência, pelo conhecido gargalo do transporte para se chegar e sair na Mata Norte. O pior é que a solução é tão conhecida quanto protelada há vários anos - o Arco Metropolitano facilitaria o fluxo e destravaria o funil da travessia nas estradas pernambucanas. No entanto, o governo do Estado não consegue viabilizar o projeto, enquanto os vizinhos paraibanos só têm a ganhar com a demora.

O centro de logística no Conde, pertencente ao Grupo Yachin, será uma razão a mais para que outras empresas cruzem a fronteira, ou prefiram o lado paraibano, se vierem de outra parte do País. Com inspiração em Cajamar, cidade da Região Metropolitana de São Paulo que se tornou referência de hub logístico, o objetivo dos empresários pernambucanos que apostam na Paraíba é reproduzir o modelo no Conde, tendo como âncora o polo de desenvolvimento em Goiana, subutilizado por aqui, e que vai passando a ser visto como polo regional, dada a menor importância que parece possuir para as autoridades pernambucanas.

Se não houver melhoria na malha viária, em alguns anos até o Complexo Portuário de Suape poderá ser preterido em muitas operações pelo Porto de Cabedelo, na Paraíba. É uma possibilidade ainda remota, mas que não pode ser descartada. Se a estrutura continuar crescendo lá, e a de cá continuar na rota da degradação, o vento dos investimentos não virá para Pernambuco, com uma opção melhor, tão próxima. Mesmo quando a origem dos recursos é daqui, a tendência é buscar um lugar mais propício a receber os recursos. Assim como o Custo Brasil é um limitador de investimentos estrangeiros , o Custo Pernambuco vai se consagrando como restrição para o aporte financeiro que favorece o desenvolvimento. Melhor para a Paraíba, que conta com condições adequadas, naquela área, para vislumbrar um salto na qualidade de vida para a população do Conde e arredores.

 

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