Editorial

Pontes para o descuido

Publicado em 27/11/2020 às 2:00
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Há quase dois anos, circularam pelas redes sociais imagens da deterioração exposta nas principais pontes que compõem a paisagem dos cartões-postais que retratam, de longe, a cidade do Recife. Pressionada pela opinião pública, a Prefeitura anunciou, naquela ocasião, o lançamento de um programa de recuperação para as pontes, garantindo, como é de praxe nas respostas burocráticas, o andamento dos processos licitatórios para as obras necessárias, bem como assegurando a realização de periódica averiguação dos problemas identificados nas imagens, que faria parte de um calendário anua l de manutenção.

Esta semana, o assunto volta à pauta da reportagem. Agora a pressão é institucionalizada por vistoria do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (CREA-PE). Das 12 pontes inspecionadas pelo órgão, pelo menos quatro apresentaram comprometimentos estruturais aparentes. Ferragens despontando e fissuras nas estruturas indicam problemas que podem se tornar sérios nas pontes Giratória e Maurício de Nassau, no Bairro do Recife, na José Barros Lima, em Joana Bezerra, e no Viaduto Joaquim Cardoso, dos Coelhos ao bairro da Boa Vista. O laudo ainda será formulado pelos engenheiros que foram aos locais, e terá também uma avaliação do ecossistema dos rios, possibilitando a checagem da poluição nas bacias do Capibaribe e do Rio Tejipió.

A falta de manutenção das pontes na capital pernambucana é flagrante, e a condição de precariedade é visível em qualquer passeio de barco - para exaltar a cidade, e não, espantar os turistas e a população diante do cenário de abandono. A blitz do CREA não surge do nada. A entidade aproveitou a situação conhecida dos cidadãos para promover uma ação de alerta às autoridades municipais. "Ficou claro para nós que havia uma necessidade de maior e melhor manutenção dessas pontes", atesta o presidente do Conselho, Evandro Alencar. A Prefeitura restaurou três pontes desde o lançamento do Plano de Recuperação das Pontes, de 2018, e alega estar cumprindo uma agenda de acordo com a capacidade orçamentária e a priorização definida por critérios técnicos. Para o presidente do CREA, melhor, mais seguro e mais barato para os cofres públicos seria um programa permanente de manutenção. Uma lei aprovada pela Assembleia Legislativa em 2016, até hoje não regulamentada - e portanto não cumprida - deve servir de parâmetro para a periodicidade das manutenções das pontes, segundo Evandro Alencar.

A regulamentação do instrumento legal é o primeiro passo para o poder público buscar formas de viabilizar a segurança da população que utiliza as pontes no Recife. O ritmo burocrático de programas de recuperação sai muito mais caro, como frisou o CREA, e gera um risco que se acentua com o passar do tempo. É responsabilidade da gestão municipal zelar pelo patrimônio erguido sobre os rios, embelezando a cidade. Mas sobretudo, evitar que o preço do descuido seja impagável após uma falha estrutural de porte.

 

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