Editorial

No caminho do meio

Publicado em 30/11/2020 às 2:00
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Os resultados das urnas, ontem, em 57 grandes cidades, envolvendo 38 milhões de brasileiros, tiveram como desenho geral a confirmação da tendência no primeiro turno, quinze dias atrás. A população demonstrou preferir candidatos menos identificados com as extremidades da política nacional, de certo modo rechaçando a disputa radicalizada da eleição presidencial de 2018.

Se o antipetismo e parcela da esquerda que busca ocupar o lugar do PT sofreram derrotas importantes, em São Paulo, no Recife, em Vitória e Porto Alegre, candidatos e partidos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro tão pouco ostentaram desempenhos razoáveis. É como se uma fadiga da polarização extrema tenha definido as escolhas dos novos prefeitos, e a renovação dos mandatos daqueles que mereceram o crédito da confiança coletiva para permanecer no poder.

Do ponto de vista do mosaico partidário, a diversidade formada nos municípios não deixa de espelhar essa realidade. O partido de Lula, por exemplo, não conseguiu fazer um único prefeito de capital no País.

Do mesmo modo que o bolsonarismo acusou evidentes derrotas, como no Rio de Janeiro, onde o democrata Eduardo Paes recebeu a chancela para voltar para seu terceiro mandato, tirando do posto Marcelo Crivella, que tentava a reeleição. Sem uma bandeira partidária preponderante, as eleições municipais de 2020 - ano traumático para as cidades, por causa da pandemia em curso - fizeram as pessoas procurarem um eixo para guiar a direção do interesse coletivo. Nessa busca, foram desprezados não apenas partidos e nomes ligados às extremidades, mas também aqueles que representavam de algum modo uma aventura, uma aposta mais alta do que o oponente. Nesse aspecto, foi um voto conservador, de viés de centro, variando da centro-esquerda para a centro-direita, em sua maioria.

Na capital pernambucana, a atitude do eleitor nacional se refletiu na migração da maior parte dos votos em candidatos da direita no primeiro turno - que somaram mais de 40% - para João Campos, do PSB. Tradicional reduto petista no Brasil, o Recife não fugiu à regra do antipetismo dominante nas capitais e nos grandes centros urbanos. Mas apesar do que indicavam as últimas pesquisas de intenção de voto, Marília Arraes somou menos votos do que se esperava, conferindo ao filho de Eduardo Campos uma vitória expressiva, carreando para sua eleição grande responsabilidade.

A passagem de poder no município irá requerer uma transição que clama pela mudança, como o próprio João Campos pregou durante a campanha. A gestão socialista, desde 2012, acumula desafios não superados que precisam ser enfrentados através de novas abordagens. A desigualdade social e a estagnação econômica do Recife demandam do futuro prefeito sensibilidade e compromisso com os cidadãos. Cumprindo a missão da imprensa, o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação reitera a permanente atenção com os problemas da população, e deseja sorte e equilíbrio aos governantes.

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