O desmantelo do sistema de transporte coletivo na Região Metropolitana do Recife gerou um cenário de medo e transtorno para os passageiros – e também para os trabalhadores que tiram o sustento dessa atividade. Sobrecarregados, submetidos a grande estresse todos os dias, ao longo do dia inteiro, os motoristas dos ônibus exercem múltiplas funções em um ambiente de risco elevado para si próprios e para os ocupantes dos veículos, bem como para o trânsito em que circulam. Um caso ilustrou, na quarta passada, o quadro de decadência do sistema. Um passageiro invadiu o ônibus, foi repreendido pelo motorista, e antes de descer, partiu para a agressão sobre o condutor, que desmaiou em cima do volante e fez o coletivo se desgovernar, indo parar no acostamento. Por sorte, ninguém, além da vítima da violência, saiu ferido.
Atendido pelo Corpo de Bombeiros e levado para uma UPA, o motorista da linha 948 – Arthur Lundgren/ TI Macaxeira, deve ser observado, pois levou chutes na cabeça. Além das consequências físicas dos golpes covardes, seu equilíbrio emocional certamente está comprometido, para seguir desempenhando as funções e a responsabilidade que o sistema de transporte lança aos motoristas no Grande Recife. Os veículos são desprovidos de segurança para coibir e evitar os abusos de passageiros que não pagam para usar o serviço, saltando a catraca e ameaçando os demais passageiros e o condutor, em seu trajeto. A ocorrência tem sido comum, mas nem os gestores do sistema, nem as autoridades públicas que deveriam cuidar do bem-estar da população – incluindo os motoristas – parecem preparados para lidar com a situação. Assim como em relação ao surf no teto dos ônibus, que continua usual, sem que nenhuma medida seja tomada para impedir a prática de jovens e adolescentes.
Os rodoviários podem realizar um protesto no TI da Macaxeira, contra o descontrole a que são submetidos. As paralisações penalizam os usuários, mas chamam atenção para um cotidiano insustentável, que mesmo insustentável, permanece há anos, sem solução, cada vez pior. A recente promessa de moralização do transporte público em Pernambuco precisa começar pelo resgate da dignidade do serviço, suprindo à demanda da população sem sacrificar a segurança de todos – trabalhadores e passageiros. A saída dos cobradores, numa conjuntura de desordem e vulnerabilidade, só fez tornar ainda mais evidente os gargalos e problemas do sistema. Nessa conjuntura, a solidão dos motoristas diante do caos, da desproteção e do risco que envolve cada viagem precisa ser levada em conta pelos gestores privados e pelo governo do Estado.
A rotina de agressões é um dos destaques das reportagens na Coluna Mobilidade, do JC, que trata da dura realidade dos motoristas de ônibus na Região Metropolitana do Recife. Cuidar da integridade desses profissionais é zelar pela qualidade desejada no transporte coletivo, que por sua vez responde, do jeito que está, num dia a dia de tensão e sofrimento, pela falta de qualidade de vida dos pernambucanos.
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