Derretimento de geleiras pode indicar planeta em mutação

JC
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Publicado em 22/04/2023 às 0:00

No que aparenta ser consequência direta dos oito anos mais quentes já registrados na superfície da Terra, as geleiras derreteram a uma velocidade considerada muito alta, no ano passado. A concentração de gases do chamado efeito estufa segue aumentando, elevando a temperatura média global.

Sem que os governos nacionais cumpram suas promessas de redução das emissões, a reação natural parece estar igualmente se acelerando, alerta a Organização das Nações Unidas (ONU).

Com isso, as mudanças climáticas que vêm sendo observadas nos últimos anos podem se acentuar nas próximas décadas, através de fenômenos mais intensos de estiagens e chuvas, por exemplo – além de ocorrências imprevisíveis ao conhecimento, diante de alterações inéditas da configuração planetária no período de ocupação da espécie humana.

De acordo com dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU, o gelo marinho da Antártida chegou ao seu nível mais baixo já medido. O nível do mar, em resposta, foi elevado por ano, entre 2013 e 2022, o dobro em relação ao que a água subiu entre 1993 e 2002.

Além disso, temperaturas recordes foram registradas nos oceanos da Terra – onde se deposita a maior parte do calor armazenado pelo efeito estufa. A OMM aponta que a temperatura média global em 2022 foi 1,15º C acima da média vigente nos últimos 50 anos do século 19.

Essa época serve de parâmetro para o Acordo de Paris, firmado em 2015 por diversos países, pelo qual o aumento do aquecimento deve ser mantido abaixo de 2º C, de preferência abaixo de 1,5º C em comparação com os anos 1850-1900.

Apesar das promessas de redução de emissões, a concentração de gases do efeito estufa bateu recordes em 2021 e 2022. O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, é pessimista em relação ao derretimento das geleiras: “O jogo está perdido. A concentração de CO 2 já é muito alta, e a elevação do nível do mar provavelmente continuará por milhares de anos”, afirmou.

Em um ano, a espessura das geleiras observadas diminuiu 1,3 metro, acumulando a perda de 30 metros de espessura desde 1970. Somente nos Alpes Suíços, desapareceu 6,2% da massa glacial no verão passado, a maior perda registrada em tão pouco tempo. “Isso é sério”, adverte o cientista.

A situação teria chegado a um ponto sem volta, em processo irreversível de degelo, a não ser que a humanidade invente um meio para retirar o gás carbônico excessivo presente na atmosfera. Portanto, a questão não seria mais reduzir as emissões – porque as emissões já realizadas causaram o cenário atual, do qual não haveria passo atrás.

Depois de se demonstrar assustado, o dirigente da agência da ONU lembrou que não há mais associação entre a emissão de gases poluentes e o desenvolvimento, pois pelo menos três dezenas de nações no mundo trocaram a matriz energética por fontes limpas, e continuam crescendo economicamente.

Como as Nações Unidas fracassaram em liderar a desaceleração do aquecimento da superfície terrestre e do derretimento das geleiras, tudo indica que a organização se prepara para tentar administrar os prejuízos, ainda incalculáveis, que desafiam os grupamentos humanos em um planeta em mutação.

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