Transporte coletivo como solução, e não, problema

A visão estratégica e política do transporte no Brasil precisaria ser drasticamente alterada

JC
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Publicado em 14/05/2023 às 0:00

O desleixo e a falta de investimentos na infraestrutura de transporte coletivo no Brasil trazem uma conta alta, mas que será preciso pagar se a mobilidade for encarada como solução, e não problema, para o país. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) utilizou como parâmetros de padrão desejável os sistemas de transporte coletivo na Cidade do México e em Santiago do Chile. Para que as 15 maiores Regiões Metropolitanas do Brasil, incluindo o Recife, ofereçam o mesmo tipo de qualidade no deslocamento, o custo estimado é de R$ 295 bilhões, que devem ser gastos até o ano de 2042, ou seja, num horizonte de duas décadas.
A melhoria do metrô parece um sonho distante para uma situação de sucateamento como a que os pernambucanos experimentam, há décadas. Aqui e em outras partes do país, o transporte coletivo está longe de ser a solução que deve ser, configurando problema recorrente, de enorme passivo e falta de perspectivas. As quase três centenas de bilhões de reais deveriam ser aproveitados, sobretudo, no aperfeiçoamento e expansão dos sistemas metroviários, e depois ferroviários. O valor seria suficiente, segundo se estima, para mais que duplicar os caminhos de trilhos no território brasileiro. Em seguida na direção das prioridades apontadas pela CNI, viriam os ônibus BRT.
De onde viria esse dinheiro? A entidade reconhece a dificuldade para o financiamento de um programa de transporte coletivo dessa envergadura, mencionando que o setor público mal dá conta de atender à manutenção do que existe – em Pernambuco, nem isso. Mas há exemplos no país que podem ser tomados como rotas possíveis, a exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro, onde as concessões públicas são passadas à gestão da iniciativa privada, que arca com a responsabilidade administrativa e os investimentos necessários para gerar benefícios à população.
Os contratos para as parcerias público-privadas devem ter a duração de 30 anos, em que se tenha a construção, operação e manutenção dos sistemas, de acordo com a CNI. A visão estratégica e política do transporte no Brasil precisaria ser drasticamente alterada, deixando o privilégio concedido aos automóveis, e assumindo a necessidade do transporte coletivo eficiente e seguro, algo de que os brasileiros não dispõem. Segundo o estudo realizado, o transporte coletivo no país vem ficando cada vez pior, na contramão de evoluções conquistadas em outros lugares da América Latina, como o México e o Chile. Sem a mudança do transporte individual para o coletivo, a população das regiões metropolitanas continuará submetida ao estresse e aos riscos da deterioração dos sistemas em operação atualmente, como no Recife.
As consequências da inércia já são sentidas. As pessoas que se deslocam em grandes distâncias diariamente para trabalhar comprometem a qualidade de vida e, por tabela, o nível da atividade que realiza, ocasionando prejuízos à coletividade. O transporte ruim é caro e está ligado à baixa competitividade das empresas e do país. Portanto, ou a modernização e expansão dos trilhos é vista como solução, ou seguiremos numa linha sem destino ao desenvolvimento nacional.

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