O anúncio do fim do preço de paridade de importação (PPI) para a Petrobras veio junto com o da redução de preços de combustíveis e do gás, num movimento concertado embrulhado para presente pelo novo governo federal. Mas as duas coisas podem ter efeitos diferentes, em prazos variados. Se ninguém pode negar a boa notícia da redução do preço de qualquer produto, especialmente os essenciais para o giro da economia, o abandono da paridade com os valores do mercado internacional pode significar um gigantesco passo atrás na arrumação que vem sendo dada à Petrobras desde o impeachment de Dilma Rousseff – que na presidência fez algo semelhante ao que Lula agora anuncia, desvinculando preços da realidade, e semeando a crise que não tardou a chegar na conjuntura nacional.
A desarrumação já espalha dúvidas e assombros entre os produtores, importadores e distribuidores de combustíveis. O principal temor é a ausência deliberada de um referencial confiável para a formação dos preços. Porque esse vácuo ser preenchido pelos humores e disposições políticas do governante da vez é um desastre anunciado. Quando a política quer demonstrar força própria para domar a economia sem instrumentos econômicos, como tentou o governo Dilma, os resultados são conhecidos e esperados. A economia não se doma por presunções, nem sequer por boas intenções, e muito menos, pelo populismo que garante que daqui para frente tudo será diferente.
A contenção artificial dos preços dos combustíveis foi uma estratégia política adotada para a reeleição de Dilma Rousseff, gerando um prejuízo vultoso para a Petrobras, e em seguida, para o país. A alusão à competitividade no mercado sem perda de rentabilidade, ao se substituir o PPI por nada além do rebaixamento de preços, soa mais como promessa politiqueira sem fundamento, do que política econômica fincada em pressupostos firmes. Um governo cioso de suas responsabilidades coletivas, por outro lado, não deveria se prestar a acatar medidas inconsistentes, fiando-se na capacidade de improviso adiante, quando problemas sérios aparecerem – entre os quais o desabastecimento, graças ao descolamento entre o preço sem paridade e a realidade na qual os preços se inserem.
A importação de diesel, para tomar apenas esse exemplo, representa 25% do que é consumido no Brasil. Ao retirar a paridade internacional, a Petrobras assume a postura de ilha no mercado global. O que serve tão somente para a fantasia, ou para o delírio de gestores afastados de seus compromissos com o dever da função que exercem. O PPI oferece uma previsibilidade que a nova disparidade não parece se esforçar para trazer, o que tem tudo para paralisar o mercado e retardar investimentos, ao invés de impulsionar a economia.
A expectativa depois do anúncio do que saiu, é o detalhamento do que se põe no lugar. O risco de um retorno da ingerência política no mercado de combustíveis, que inclui o favorecimento parcial a grandes empresas do setor, em detrimento das pequenas, tende a ficar mais alto, enquanto o governo federal se exime de pensar em consequências – na melhor das hipóteses.
Petrobras revive o risco de disparidade com a realidade
O principal temor é a ausência deliberada de um referencial confiável para a formação dos preços