Líderes do grupo de países formado pelos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Japão se reúnem até hoje com convidados, em solo japonês, num encontro de cúpula em que se destacaram, até ontem, as críticas à China e as ameaças à Rússia pela invasão da Ucrânia. O encontro serviu de palco para o fortalecimento do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em sua cruzada por mais armamentos para se equiparar ao poder bélico dos russos, e impedir a tomada do território. Mas também acirrou os ânimos e conturbou o clima diplomático do Ocidente com os chineses, que reagiram imediatamente a um comunicado emitido pelo G7.
O tamanho crescente da economia chinesa é uma das preocupações do grupo, formado por países democráticos que temem também a expansão do modelo ditatorial de governos como o de Pequim e Moscou. O discurso unificado contra China e Rússia, por outro lado, pode se reverter em maior alinhamento entre esses dois países. O que, do ponto de vista geopolítico, pode ser mais um passo em direção à animosidade global, na contramão da cooperação buscada desde o fim da Guerra Fria.
Nos bastidores das batalhas retóricas, o aumento de preparação bélica une ocidentais e orientais, incluindo investimentos pesados no aprimoramento de armas nucleares. Os avisos de Vladimir Putin sobre o uso de bombas nucleares na Ucrânia parecem ter sido a senha para um retorno à Guerra Fria, com o agravante de um local propício a uma tragédia anunciada para a humanidade. Com Zelenski conquistando a simpatia e os fundos necessários para se armar para se defender e atacar os invasores, a reação de Putin à escalada dos conflitos em território ucraniano pode ser a utilização real da arma do fim do mundo – mesmo que de forma tática, sem grande efeito aniquilador.
A declaração do G7 de que a pretensão é “definhar a máquina de guerra da Rússia” pode ser tomada como uma provocação temerária, levando-se em conta o arsenal nuclear dos russos. Barra a tecnologia que se transfere aos russos, bem como estabelecer sanções aos grupos que transportam material de guerra para a Rússia, não deixam de ser estratégias válidas para a possível, mas improvável dissuasão de Putin. No entanto, anunciar isso com palavras beligerantes não contribui para o esperado fim da guerra. O isolamento da Rússia deve crescer, no front econômico e financeiro, dentro do que a economia de guerra se insere. Mas o comportamento do presidente russo pode não corresponder às expectativas dos líderes do G7 – até na aproximação com a China, que pode se aliar à Rússia se continuar sendo criticada e ameaçada.
O apoio da Europa e dos EUA à Ucrânia se consolida em recursos, armas e palavras cada vez mais entusiasmadas, com o uso de expressões como “pelo tempo que for preciso”. Enquanto isso, a paz vai se distanciando do alcance diplomático, restando a confiança no poder de fogo conferido à Ucrânia para expulsar os russos de suas fronteiras.
Reunião de cúpula do G7 vira palco para a guerra
Nos bastidores das batalhas retóricas, o aumento de preparação bélica une ocidentais e orientais