Agenda ambiental e modelo de desenvolvimento

O estágio de degradação no planeta, incluindo as alterações climáticas e o derretimento das calotas polares e o aumento da temperatura oceânica, incide como alerta aos países emergentes, como o Brasil e a Índia, na inserção às normas da economia global

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JC

Publicado em 28/05/2023 às 0:00
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O apoio de Marina Silva durante a campanha presidencial, no ano passado, e sua confirmação como ministra do Meio Ambiente, após a eleição de Lula, gerou mais uma vez a expectativa apressada sobre a adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável no Brasil, após quatro anos de um negacionismo ambiental predatório. Mas os primeiros impasses no governo federal, bem como a pressão pelo esvaziamento da pasta de Marina Silva pelo Congresso, revelam que o país está longe de um consenso
para aliar crescimento econômico e bem-estar social à agenda ambiental. Os movimentos dos últimos dias, aliás, reforçam o modelo tradicional de desenvolvimento, sem qualquer preocupação com as consequências para a biosfera terrestre.

Até a resiliência da ambientalista acostumada com revezes e combates difíceis pode ter limites. Uma eventual saída de Marina do governo Lula representaria um choque da política real sobre o mundo ideal preconizado antes de a realidade atrapalhar. Por outro lado, a permanência da ambientalista no cargo, como ela mesma afirmou, pode significar uma chance de viabilização de políticas contra o desmatamento e pelo desenvolvimento sustentável. Mas a ameaça de retirada de atribuições do Ministério do Meio Ambiente para outras pastas, pelo Congresso, e a investida poluente e nada sustentável do governo federal no incentivo à indústria automobilística – com o respaldo de Fernando Haddad e o entusiasmo de Lula – se presta ao questionamento sobre o modelo de desenvolvimento que começa a ser aplicado pelo atual governo.

Ao comentar as dificuldades que espera superar, Marina Silva lembrou que se trata de um governo de frente ampla, e por isso abriga contradições. No entanto, desde os primeiros dias de mandato, a frente vem se estreitando, e o que se amplia é a contradição na própria gestão. Os embates no Parlamento tendem a se aprofundar, e os temas do meio ambiente já despontam como territórios de disputa. Enquanto o Planalto aposta no desenvolvimento insustentável, demonstrando incoerência, falta clareza a
respeito do modelo de desenvolvimento em que o governo é baseado.

O estágio de degradação no planeta, incluindo as alterações climáticas e o derretimento das calotas polares e o aumento da temperatura oceânica, incide como alerta aos países emergentes, como o Brasil e a Índia, na inserção às normas da economia global. Neste sentido, medidas contrárias à direção sustentável adotadas pelo Brasil, sob a responsabilidade ou o pouco caso do governo federal, podem significar a perda da boa imagem do país lá fora, atribuída, justamente, à recuperação do alinhamento à agenda ambiental.

Mas o mais importante não é o verniz diplomático internacional. O exemplo do governo federal é crucial para a disseminação de políticas de desenvolvimento ancoradas na sustentabilidade, por estados e municípios, tanto no âmbito do Executivo quanto do Legislativo. Sem a componente verde, o crescimento econômico pode trazer prejuízos que desfaçam os ganhos em poucos anos, revertendo rapidamente qualquer avanço na qualidade de vida – se é que se vislumbra melhoria da qualidade de vida sem a base da sustentabilidade.

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