A humanidade sabe há muito tempo o perigo que representa o plástico para a biodiversidade e a vida na Terra. Mesmo assim, apenas neste século, nos últimos vinte anos, a produção anual do material, derivado do petróleo, mais que dobrou, chegando a 460 milhões de toneladas. Um volume assustador que invade o meio ambiente, e pode triplicar até 2060, caso nada seja feito para conter essa poluição, tão perniciosa quanto os gases de efeito estufa gerados, também, pelo petróleo, através dos combustíveis.
Com atraso de décadas, discute-se a implantação do Tratado Global do Plástico, numa tentativa de frear a produção e impedir o alastramento de um lixo que não se desfaz rapidamente. No Dia Mundial do Meio Ambiente, a degradação ambiental planetária aparece acelerada, enquanto os esforços de líderes, governos e entidades que se preocupam com o tema, ao longo das últimas décadas, não surtiram os efeitos suficientes. O tratado que se costura em encontros internacionais ainda está longe do consenso para eliminar o uso do plástico, que possui uma taxa de reciclagem de apenas 10% - menos de 2% no Brasil, segundo a WWF.
Em entrevista para Adriana Guarda, publicada no JC de ontem, a diretora executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur, Luisa Santiago, falou sobre a solução vislumbrada pela economia circular, em que o plástico se mantém em uso sem se tornar resíduo, e os próximos passos para conter sua ameaça à Terra. Para ela, a necessidade do tratado se impõe diante da realidade. Mas para isso, a economia circular se contrapõe à economia linear, como alternativa consequente. “Mitigar o problema de uma economia linear é não mudar nada na forma como o processo funciona, como a gente faz e coloca plástico no mercado”, critica.
De acordo com a executiva, a posição brasileira no debate continua sendo tradicional, sem avanços. Luisa Santiago adverte que o olhar social, que privilegia a condição dos catadores na reciclagem, esquece as dimensões econômica e ambiental do problema. Muitas empresas aguardam resoluções dos governos para que a economia circular do plástico ganhe terreno legal, disseminando medidas que já são seguidas no âmbito privado. E somente a partir de posturas mais ambiciosas nos governos nacionais, a participação da sociedade poderá ser efetiva, na visão da diretora da Fundação Ellen MacArthur.
Porque a escolha individual pelo consumo consciente tem seus limites, perante o sistema produtivo no qual o plástico se assenta. “Se temos um sistema em que todas as opções do mercado vêm de multimateriais, cheias de substâncias químicas tóxicas, de resina virgem vinda da petroquímica, o que eu vou fazer com as minhas escolhas?”, indaga. E indica a pressão nos governos para a mudança no sistema, como uma estratégia contra a poluição plástica.
Plástico põe a vida na Terra em risco
Somente a partir de posturas mais ambiciosas nos governos nacionais, a participação da sociedade poderá ser efetiva