Estudos comparativos entre o Brasil e o resto do mundo escancaram, há anos, a permanência de problemas que afetam a qualidade de vida da população brasileira. Os gargalos da economia, que formam obstáculos estruturais para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e o desenvolvimento sustentável, têm origem em demandas sociais que se arrastam há séculos, numa nação que não é mais tão jovem quanto era, por exemplo, 50 anos atrás. O Brasil envelhece, e os problemas continuam, com o agravante das consequências acumuladas pelo atraso de soluções que não chegam, ou apenas ensaiam aparição, em casos exemplares que não se alastram pelo território nacional.
Agora, nova edição do ranking de competitividade da escola suíça de educação executiva IMD põe os brasileiros na parte mais embaixo da lista, na frente apenas da Venezuela, da Argentina, da Mongólia e da África do Sul. Com isso, o Brasil se encontra em 60º lugar no ranking. Os dados são coletados e organizados, aqui, pela Fundação Dom Cabral. Entre os maus resultados percebidos, alguns não saem de cena, como a educação e a formação de recursos humanos, e a burocracia excessiva para a abertura de empresas. São gargalos que se repetem em levantamentos diversos, a partir de perspectivas que se complementam para ressaltar a demora na implementação de políticas públicas voltadas para superá-los. Os diagnósticos são conhecidos, bem como a necessidade de investimento maciço para mudar a realidade adversa – que atinge as empresas num segundo momento, depois que já faz parte do cotidiano sofrido da maioria da população.
Apesar dos problemas serem antigos, a situação piorou bastante nos últimos dois anos, de acordo com a pesquisa, quando o país caiu da 49ª para a 60ª posição do ranking. O que vale para a estatística, mas pode não fazer tanta diferença para os cidadãos e as empresas: para sair do fundo do poço, o Brasil precisa olhar para cima, prestar atenção no que dá certo em outros países, e seguir na direção da recuperação social e econômica. O que depende de uma sociedade engajada, mas principalmente de lideranças políticas comprometidas com a transformação da realidade, e não, com a sua persistência, que muitos utilizam como âncoras para o poder.
Despontando como modelo de referência para as nações que desejam ganhar competitividade, a Irlanda adotou caminho que poderia ter sido trilhado pelo Brasil há muito tempo. A combinação de qualificação da mão de obra – que começa pela educação de alto nível – com baixa carga tributária e boa infraestrutura garante aos irlandeses o segundo lugar no ranking, atrás apenas da Dinamarca. Para sair do buraco em que estamos, precisamos ganhar competitividade atacando os problemas antigos que afligem a sociedade brasileira. Começando pela educação fundamental, até a formação de níveis técnico e superior. Sem esquecer a infraestrutura, deficitária em várias demandas, como distribuição de água, oferta de transporte público e serviços dignos de saúde.
O Brasil não é a Dinamarca, nem a Irlanda. Longe disso. Mas para o Brasil ser um lugar decente para os brasileiros, os problemas que se arrastam devem ser tratados com urgência, sem os desvios de assunto tão comuns aos nossos governantes e parlamentares.
Baixa competitividade reflete problemas antigos
Os diagnósticos são conhecidos, bem como a necessidade de investimento maciço para mudar a realidade adversa