A vacinação muito abaixo do ideal para a imunização dos brasileiros tornou a circulação do Influenza e outros vírus respiratórios uma ameaça à saúde pública no país, com o início do inverno, na semana passada. A campanha oficial terminou sem que a meta para imunizar os públicos de maior risco fosse atingida, ou sequer aproximada. Com isso, o Ministério da Saúde orientou estados e municípios a darem continuidade à vacinação, enquanto durar o estoque de doses. O problema é que a alta estação de contaminações põe a rede de atendimento hospitalar em alerta, gerando superlotação e fila de espera por leitos, com a ocorrência de casos graves que poderiam ter sido evitados com a vacina.
Enquanto a ministra Nísia Trindade convoca gestores públicos e a sociedade para um Movimento Nacional pela Vacinação, o Sistema Único de Saúde (SUS) volta a dar sinais de sobrecarga e deficiência de infraestrutura, como observado na pandemia de Covid. A meta era imunizar 90% da população, mas mesmo no grupo de risco que inclui idosos, crianças e trabalhadores de saúde, a aplicação foi realizada em apenas 50%. Sem a proteção da vacina, o organismo não é capaz de reduzir a carga da doença, provocando risco de desenvolvimento de casos graves, hospitalizações e morte por causa da gripe. As substâncias imunizantes disponíveis são atualizadas todo ano, com segurança e eficácia, de acordo com orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS).
A decretação de estado de emergência por doenças respiratórias deixando os hospitais lotados se verifica, atualmente, em Santa Catarina e no Acre, assim como em Pernambuco. Com a situação extraordinário, os gestores podem contratar mais rapidamente, e buscar a melhoria de infraestrutura para suprir a demanda dos pacientes, sobretudo nas unidades de terapia intensiva. Vale registrar que a urgência pode se espalhar pelo país, uma vez que estamos no comecinho do inverno. E que os transtornos na saúde pública poderiam ser menores, se a vacinação tivesse chegado perto das metas.
No Amapá, desde maio, o governo estadual decretou emergência devido ao aumento de síndromes gripais a partir de janeiro, principalmente em crianças. Novos leitos de terapia intensiva tiveram que ser abertos, e toneladas de oxigênio foram encomendadas ao governo federal, num cenário similar ao dos piores dias da pandemia. Aqui em Pernambuco, a emergência se refere à situação das UTIs pediátricas, que estão com filas de espera há semanas. As crianças são mais suscetíveis ao compartilhamento dos vírus, porque não se protegem como os adultos – quando os adultos fazem uso de alguma etiqueta respiratória ao tossir ou espirrar em lugares aglomerados.
Os primeiros dias de inverno trazem preocupação para as famílias e os profissionais de saúde, em larga medida, porque o país fracassou no cumprimento do objetivo de vacinar a população. A mensagem da importância das vacinas continua sendo barrada pela desconfiança, muitas vezes fabricada por mentiras embaladas em fake news. Os brasileiros talvez venham a recordar o valor da imunização da pior maneira, numa crise de saúde pública em decorrência da emergência gripal.
Emergência gripal
A alta estação de contaminações põe a rede de atendimento hospitalar em alerta, gerando superlotação e fila de espera por leitos